domingo, julho 30, 2006

após "the blasphemer" de blake

há um johnny - de machado -
dentro de qualquer forma.

suprir a matéria


metafísica da forma: kasimir
malévich, geômetra do céu em
branco.

de alguns retângulos: vermelho,
amarelo, preto, azul, respectiva-
mente.

um avião se faz planar, sobre a
tela - on canvas - tudo como que
de branco no brando.

entre a matéria de tinta e a matéria
pintada, uma outra coisa que costuma
chamar arte.

a cercania de uma festividade

como que das distâncias
apartado, os olhos rarejam
algumas imagens do final.
assim pára, toma da água e
do vinho (2 partes por uma):
o reflexo de uma alegria de fum-
aça - nas assaduras do tempo -
e o júbilo de - tendo escrito na
parede: porque no sé res.

comíamos, no entr'espaço de
duas linhas, alguns petiscos de
alguma conversa: risos, só risos
à toa.

saldo: rubros, sem sapatos, alguns
caídos, dança, fumaça ao léu de
nossas (in)consciências consistentes.
saldo: menos bergman, mais nietzsche,
ainda um mallarmaico brinde -
solitude, recife, estrela.

um último traçado, em escrita ou
melodia - pouco importa - de feliz
morada, abraços, como devem ser
aqueles que bebem vida - como pound -
mesmo de quem se retira.

quinta-feira, julho 27, 2006

fabrícia wake


não se quer feno
o que é interno
a p e n a s
lar e paz, casa
em que
retornas.

lírica para fabrícia, novamente


conduz-me com a mão
que, pueril, solfeja a mes-
ma nota de morada.

conduz-me com a boca
que, toda nudez, ensina
minha parte em contrário.

conduz-me com a vulva
que, toda lábio, convulsa
meu mais confuso gesto.

conduz-me com a testa
que, franzida, perplexa
o outro que sou, em ti.

pós-olor


enuncio:
renúncia do nume -
palavra inscrita -
que deplora o
canto.

renuncio:
enunciado de carne -
palavra estrita -
que, de fora,
cala.

anuncio:
prenúncio dediróseo -
palavra constrita -
que demora,
solstício.

colore todo
um cio - estro -
de música e motivo
escrita que degola
o canto, a fala, o sol.

arnaut espanta o tédio


er vei vermeills, vertz, blaus, blancs, gruocs

vergiers, plans, plais, tertres e vaus,
e•il votz dels auzels sona e tint
ab doutz acort maitin e tart.
so•m met en cor qu’ieu colore mon chan
d’un’aital flor don lo fruitz sia amors,
e jois lo grans, e l’olors d’enoi gandres.

vinte pinturas para construir um poeta

01. p. cézanne, chateau noir.
02. m. escher, o limite do círculo.
03. p. klee, peixe dourado.
04. g. klimt, die jungfrau.
05. m. caravaggio, a crucificação de são pedro.
06. l. da vinci, virgem nas pedras.
07. d. velasquéz, las meninas.
08. rembradt, aristóteles contempla busto de homero.
09. j. miró, detrás do espelho.
10. p. picasso, la tauromaquía.
11. c. monet, ponte japonesa.
12. m. duchamp, nu descendo a escada.
13. v. van gogh, irises.
14. k. malevich, suprematismo: avião voando.
15. j. vermeer, a arte da pintura.
16. f. bacon, orestia.
17. piero della francesca, madonna del parto.
18. p. uccello, a caçada.
19. f. kahlo, duas fridas.
20. j. van eyck, o casamento de arnolfi.

bacas


com um traço flavo
de lauri-fel, rubens
reveste-se de banha

vinho mijo bode nó.

com a luz fulva, o
bicho - cão-tigre -
esbraveja sob pé
vinho mijo bode nó.

o sátiro, logo atrás,
rubens o esconde,
com a cona da baca e
o cacete de baco.

as crianças, ao lado,
bebem, mijam, bodejam
nudus nodus sobre-
vêem o êxtase, porvir.

catuliana

clódia, cláudio claudicante
colore a casa de catulo, feito
livro impresso emoldurado
e então batem-se tímpanos -
bacas gélidas - ao êneo címbalo;
tudo flauta - todo bartók.

das inúmeras amantes ou inú-
meros, catulo - a flauuis dedicou -
deduz-se então, mea lesbia, o as-
sim fervente carvalho fosse apenas
vindo do seu nome: fulvo, louro;
como citeréia. lacera peitos desnudos.

envoi

pousa, som,
como pousam
os amores de
catulo, sobre
o colo caiado -
em disfarce.

enfo(r)cando

villon:
nous préservant de l'infernale fouldre
nous sommes mors, ame ne nous harie

em que se ouve um haver de ave, infer-
no de morte, papelão e banjo. fulmina.

não falte o dia em que o olvido encerre
a memória do grão. morre, o que é doce,

ca aqui non sui son maistre, de mês, o que
qui e 'ora sobr'vor est'olor pur'fror. dança.

junto ao junco da junça - caiana da brava:
aquele que esbraveja à barbárie, espumosa;

a-que-incha: aqui não tem cachaçada é
hommes, icy n'a point de mocquerie.

cinco ou seis dependurados ao léu, luys
sors, como outrora em tchékhov, um

dos ivans. maciça a cana que de dentro
o endro sobrepuxava, mais combien d'

oiseaulx, tudo ameralim, verdim. abs-
sorve a planta, plaina o plateau.

baixe os olhos, globos d'esmerarda:
esmero smart como o chico, o velho.

baixe os olhos, feitos de prece:
apressados três martelos que sucum-

bem doutro lado, com água no meio,
borboletas - priez dieu - como as virgem.

entre cinco ou seis pendus há um respiro -
lá o pesar não acha permanência (guido) -

não convém moça direita olhar cinco hom-
ens nus-vestidos: ventadour: ao ver a ave le-

ve mover. desprezo quem esconde a canção
num tabuleiro, como quem não joga dados,

como que não come carne, como corpo mort-
o cai. freme, treme, françois.

segunda-feira, julho 24, 2006

série borgianas (1)

édipo e o enigma

quadrúpede na aurora, alto no dia
e com três pés errando pelo vão
âmbito do entardecer, assim via
a eterna esfinge ao inconstante irmão,
o homem, e à tarde um homem vaticina
decifrando aterrado, no cristal
da monstruosa imagem, o fatal
reflexo de seu destino e ruína.
somos édipo e, de modo eternal,
somos, no vasto e tríplice animal,
o que seremos e tenhamos sido.
aniquilar-nos-ia ver a ingente
forma de nosso ser; piedosamente
deus nos depara sucessão e olvido.

domingo, julho 23, 2006

puella: cour d'amours

carmina

tinge-se de vermelho,
túrgido.

tinge-se - cor de sol -
mélico.

tinge-se, magenta,
contrário.

tinge-se de poema,
aurora.

tinge-se toda de abrir,
a ti.

poema sapiencial


o nome - saber
de outros tempos -
compõe-se de ara-
bescos e benjoim,
tudo névoa de
t a p e t e.

harmônica: sabe-faz
o relógio, mola de
corda do tempo, com-
põe a coroa de negrume
em apenas cimento
- estro/cio -

regina madre: como
outrora este saber -
dante o assina com
um nome de canto -
consolava os ébrios
cavaleiros: donna
mhia para sempi-
terna, mhia senhal,
consola ca meu peito
a r d e desértico.

ez novamente



na cadeira,
com suas rugas,
o velho poeta -
não sábio, não poeta,
não santo: desconfio -
pousa em ideogramas,
pisan cantos pisando
a atmosfera nubilada
polimétis de moderna-
idade.

and then went down to the ship,

e'tão vão pra nau

ez, sobre a cadeira,
não sonha madelaines,
ou pedaços crocrantes
de irrealidade, mas
i punti luminosi.

sábado, julho 22, 2006

pomar da língua

a mátria iniciou-se:
século xii(i), taveirós:

No mundo non me sei parelha,
mentre me fôr como me vai,
ca já moiro por vós – e ai!
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando voz eu vi en saia!
Mau dia me levantei,
que vos enton non vi fea!

E, mia senhor, dês aquel dia’, ai!
me foi a mi mui mal,
e vós, filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d’haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d’alfaia
nunca de vós houve nen hei
valia d’ua correa.

guarda pois a letra trans-
formadas em semelhança
guarvaia = turquesa nobre
à pobre ribeira, mhia senhal,
poesia.

entr'acte


dante: uscimmo a riveder le stelle
puro e disposto a salire alle stelle
l'amor che move il sole e l'altre stelle.

rever estrelas - entremeados -
iessiênin no hotel inglaterra:
nada novo nesta vida; rever,

sonhar estrelas: inferno, purga-
torio, paradiso. soluçam sílabas
limbas: homero, lucano, virgílio.

o velho sábio cantaria outra só
estrela, movência.

sexta-feira, julho 21, 2006

estar à margem


à margem -
tuta-e-meia -
para não so-
mar zeros
do rebanho.

sképsis

hiperbólica in-
genu-
idade do ho-
mem: colocar
a si mesmo
como
sentido e medida
de valor das
coisas.

am i blue?
nihil est
nihil est
est nihil

persona palavra

nietzsche: "cada palavra
uma máscara", brônzea,
a mortuária do rei, olho-
de-cão, agamêmnon, a
ira - ménis - pode a
musa celebrar, da dor-
do-povo, cada palavra
esconde o escudo pessoal
persona do herói, discurso,
pharmákon: cego que vê.

cada máscara uma palavra:
mote a mote, a presença
silenciosa dos volteios dos
retornos. vontade, só-
sobram palavras, mots,
words, words, words =
hamlet em sua loucura
de máscara elisabetana.

§ cada uma máscara, palavra
devolvo-me ao ventre, vento
de poros em que naufrago,
vendo-me como cada uma
palavra, máscara. tudo bronze.

acalanto

dorme, dorme
arazona a noite
como um pássaro
funesto.

dorme, dorme
àquele que ainda
mais, ainda,
não há.

dorme, dorme
fez-se silêncio -
através da porta -
como salto.

dorme, dorme
leito perfumado
de madrepérola,
velas e coerção.

dorme, dorme
sem mais poder
dorme, dorme
aquele aquela.

caravaggio e os avessos


com são
pedro ao
contrário,
crucificado:

todo oscuro,
noite trevosa
poliflui.

esperança?


des-
espero
a escrita
estrita
sobre a mesa.

devaneio (2)

ver a terra toda nudez
vir da terra toda brancuz
vem, tédio, soluço dos fracos.

aristóteles e homero



rembrandt centelha
um punhado de lume
na cegueira do filósofo
e na clarivisão do poeta

rembrandt tudo vê sem
ter-lhe luz, mas apenas
negro, gris e ouro:
perfurados olhos.

rembrandt pousa a mão

aristotélica do não-contra-
dito, pousa uma descrição
em mudez, em melós, olh-
ando o infinito do escuro,
no lauri-claro da razão.

impotência

mesmo que tenha
nietzsche refletido
cercanias da vontade

- movência do homem
potência do ente, eter-
na volta torna refaz -

sinto a impotência
da palavra, do trab-
alho, do respiro:

decepção, missa,
mesmo que tenha
refletido.

palavras cantadas

de zeus e mnemosyne:

calliope, clio, euterpe
terpsichore, erato, melpomene
thalia, polyhymnia, urania

poesia épica - história
música e poesia lírica - dança do coral e canção
poesia erótica e mímica - tragédia
comédia - hino sagrado
astronomia


mesclam-se todas
em um lance ao acaso
az-zahr: flor sem buquê,
dado árabe lançado.

beatrice - laura - inês -
nise - marília - dulcineia -
ofélia - andrômaca - moly -
emma - capitu - ângela -
fabricia.

ao acaso: representam -
assentadas como madonnas -
o amaro amor.

devaneio

“não é nada que se diga com um nome”
Herberto Hélder

nada se
diz
com
nome:

tudo nome
nada é não
que - nisso -
ça - là où -
à ce que.

cogito
ergo
sum.

ontologia - poemas para acabar com tudo

não se diferem
antologia e onto-
logia, apenas há,
nestes, a descren-
ça: o que não pode ser
pensado.

segue uma ontologia:

CORONA

Da mão o outono me come sua folha: somos amigos.

Descascamos o tempo das nozes e o ensinamos a andar:
o tempo retorna à casca.
No espelho é domingo,

no sonho se dorme,
a boca não mente.
Meu olho desce ao sexo da amada:

olhamo-nos,
dizemo-nos o obscuro,
amamo-nos como ópio e memória,
dormimos como vinho nas conchas,
como o mar no raio sangrento da lua.
Entrelaçados à janela, olham-nos da rua:

já é tempo de saber!
Tempo da pedra dispor-se a florescer,
de um coração palpitar pelo inquieto,
É tempo do tempo ser. É tempo.

Paul Celan


E ASSIM EM NÍNIVE

"Sim! Sou um poeta e sobre minha tumba

Donzelas hão de espalhar pétalas de rosas
E os homens, mirto, antes que a noite
Degole o dia com a espada escura.
"Veja! não cabe a mim

Nem a ti objetar,
Pois o costume é antigo
E aqui em Nínive já observei
Mais de um cantor passar e ir habitar
O horto sombrio onde ninguém perturba
Seu sono ou canto.
E mais de um cantou suas canções
Com mais arte e mais alma do que eu;
E mais de um agora sobrepassa
Com seu laurel de flores
Minha beleza combalida pelas ondas,
Mas eu sou poeta e sobre minha tumba
Todos os homens hão de espalhar pétalas de rosas
Antes que a noite mate a luz
Com sua espada azul.
"Não é, Ruaana, que eu soe mais alto

Ou mais doce que os outros. É que eu
Sou um Poeta, e bebo vida
Como os homens menores bebem vinho."

Ezra Pound


DE PROFUNDIS

Há um restolhal, onde cai uma chuva negra.

Há uma árvore marrom;ali solitária.
Há um vento sibilante, que rodeia cabanas vazias.
Como é triste o entardecer
Passando pela aldeia

A terra órfã recolhe ainda raras espigas.
Seus olhos arregalam-se redondos e dourados no crepúsculo,
E seu colo espera o noivo divino.
Na volta

Os pastores acharam o doce corpo
Apodrecido no espinheiro.
Sou uma sombra distante de lugarejos escuros.

O silêncio de Deus
Bebi na fonte do bosque.
Na minha testa pisa metal frio

Aranhas procuram meu coração.
Há uma luz, que se apaga na minha boca.
À noite encontrei-me num pântano,

Pleno de lixo e pó das estrelas.
Na avelãzeira
Soaram de novo anjos cristalinos.

Georg Trakl

DESTINO DO POETA

Palavras? Sim. De ar

e perdidas no ar.
Deixa que eu me perca entre palavras,
deixa que eu seja o ar entre esses lábios,
um sopro erramundo sem contornos,
breve aroma que no ar se desvanece.
Também a luz em si mesma se perde.

Octavio Paz


Abro as veias: irreprimível,

Irrecuperável, a vida vaza.
Ponham embaixo vasos e vasilhas!
Todas as vasilhas serão rasas,
Parcos os vasos.
Pelas bordas - à margem -

Para os veios negros da terra vazia,
Nutriz da vida, irrecuperável,
Irreprimível, vaza a poesia.

Marina Tsvetaeva

quinta-feira, julho 20, 2006

hermes

hermes esculpido
- fídias resolve -
em que a tradição
cristiana - sobrevôo
de santas e triangul-
ação.

hermes: intermédio
de deuses e andros.
anér, édipo - a lou-
cura do nome, do
olho cego sem-
tome.

hermes, castrado.
restam apenas
vasos, nada
mais - xô
corvo.

quarta-feira, julho 19, 2006

arseni tarkovski, traduzido do inglês

sonhei este sonho e ainda o sonho
e o sonharei novamente outra vez.
tudo se repete e tudo reencarnaria,
a meus sonhos seriam seus sonhos.

há, para uma parte de nós, para uma parte do mundo.
onda após onda quebra na orla:
há uma estrela na onda, e um homem, e um pássaro,
realmente e sonhos e morte – onda pós onda.

datas são irrelevantes. fui, sou, serei.
vida é um milagre de milagres, e me ajoelho
sozinho ante o milagre como um órfão,
sozinho nos espelhos, circundado pelos reflexos,
mares e cidades, brilhando luminosamente entre a fumaça.
uma mãe chora e segura seu bebê em seus joelhos.

arseny tarkovsky

em Santa Catherina in Bagno Vignoni

a vela sempi-
acesa.

domenico,
ode à alegria,

em chamas
entre estátuas.

gortchakov não
traduz -

induz a quebra
fronteiriça

entre seus prazeres -
Pavel Sosnovsky -

e a poça d'água
que reflete o

coellum.

nostalgia e memória

andrei caminha
- toscania -
eugenia e o capelão:

piero della francesca:
madonna dos nascimentos

pele de parede
- rugas -
decai o véu.

para mim, já basta.

sophia (1)

com seu gesto,
de pêlo hábil,
ela salta sobre
os livros, libert-
ando a noção
de espaço.

o móbile, const-
ante, ainda a sobre-
voa, mas, quem sa-
be, pupilas variadas,
vai tombar.

memória (1)


desfaz-se a memória
de novo - retorno:
beija-flor no dedo
de madeira e tinta
ébano:
o pássaro hors de
todo
buquê: vino rojo.

ofício de poeta


olho como um
olho melan-
cólico, mas
ainda - um
corpo ao chão -
atiro másc'ras
álacres de sor-
ôco.

queria lamber,
com os olhos,
o soluço das an-
águas - como que
vendo ossanha
assanhando as
pernas de vento
e ondeado.

caminho na tér-
mica banheira,
vela acesa, apaga:
qual velho dome-
nico salteava a
esguia eugênia.
apenas um.

(depois de nostalgia)

vinte filmes para construir um poeta

01. tarkovski, "nostalgia"
02. tarkovski, "o sacrifício"
03. herzog, "o enigma de kaspar hauser"
04. fellini, "8 e meio"
05. fellini, "julieta dos espíritos"
06. pasolini, "teorema"
07. bergman, "persona"
08. bergman, "gritos e sussurros"
09. bergman, "a trilogia do silêncio"
10. bergman, "a fonte da donzela"
11. buñuel, "o anjo exterminador"
12. buñuel, "um cão andaluz"
13. clair, "entr'acte"
14. cocteau, "o sangue de um poeta"
15. kurosawa, "sonhos"
16. rocha, "deus e o diabo na terra do sol"
17. bertoluci, "assédio"
18. godard, "o desprezo"
19. resnais, "hiroshima mon amour"
20. wenders, "asas do desejo"

távola chinesa by pound



vê como a cabeça rabo-abano
ligeira responde a sua rabada!

(...)

decessos e desvarios outros,
mei centavo e troco claro,
alguns homens, hélas! seus irmão passam
la chair est triste, hélas! et j'ai lu tous les livres
nem neles como amigos podem suster.

The wanderer

Oft ic sceolde ana
uhtna gehwylce
mine ceare cwiþan.
Nis nu cwicra nan
þe ic him modsefan
minne durre
sweotule asecgan.


sempre estava só
em falar meu óbice
manhã antes de amanhecer.
agora nada vive
em quem ouse
falar claramente
meus imos pensamentos.

terça-feira, julho 18, 2006

vinte músicas para construir um poeta


01. bach, "arte da fuga"
02. bach, "sonatas para violino"
03. boulez, "pli selon pli"
04. schoenberg, "verklarte nacht"
05. vivaldi, "l'estro armonico"
06. chico, "sinhazinha"
07. villa-lobos, "bachianas"
08. beethoven, "quartetos finais"
09. wagner, "tristan und isolde"
10. wagner, "die walküre"
11. troubadours (qualquer)
12. cantigas de santa maria
13. pound, "le testament"
14. debussy, "prélude pour l'après-midi d'un faune"
15. pärt, "fratres"
16. bach, "suites para violoncelo"
17. webern, "op. 31"
18. mozart, "requiem"
19. bartók, "quartetos de cordas"
20. orff, "catuliana" ou bach, "paixão segundo joão"

aidos


um aedo canta
em sonho -

até a noite (estr-
ela indo além) -


áulicos sons

melo-

odiosos -

que sons são

estes?

na noite, um

noturno - nachtlied -

soa, soa, sua o corpo

em pó, pólvora, nada.

segunda-feira, julho 17, 2006

concreta mélica


concreto, plan(t)o
às verdes (h)eras
do tempo, no espaço
colhido de letra: lito-
ral da palavra.

sem ter-se concreto
a asa voa como um
golpe em da(r)dos
lançados - entrópicos -
de cidade, city, cité.

concretos: nascer,
morre, nasce, renas-
cesserait le hasard:
fome de forma

fome de tudo.

domingo, julho 16, 2006

apáneuthe kión
apáneuthe theôn
apáneuthe neôn

sons:
naus-deus-ir
à parte

ditirambos nietzschianos

Letzter Wille
So sterben,
wie ich ihn einst sterben sah -,
den Freund, der Blitze und Blicke
göttlich in meine dunkle Jugend warf.
Muthwillig und tief,
in der Schlacht ein Tänzer -,
unter Kriegern der Heiterste,
unter Siegern der Schwerste,
auf seinem Schicksal ein Schicksal stehend,
hart, nachdenklich, vordenklich –:
erzitternd darob, dass er siegte,
jauchzend darüber, dass er sterbend siegte – :
befehlend, indem er starb
- und er befahl, dass man vernichte...
So sterben,
wie ich ihn einst sterben sah:
siegend, vernichtend ...

Friedrich Nietzsche
Vontade Última

Assim morrer,
como um dia o vi morrer,
ao amigo que relâmpagos e relances
divino em mim lançou obscura juventude.
Malcriado e profundo,
na batalha um dançarino;

entre os lutadores o mais risonho,
entre os vencedores o mais vistoso,
erigindo sobre destino um destino,
harto, meditabundo, premeditável –:

estremecendo-se pois, que vencia,
exultante pois, que morrendo vencia –:

ordenando enquanto morria
– e ordenava, que se aniquilasse...
Assim morrer,
Como o vi outrora morrer
vencendo, aniquilando...
piero eyben

reviver vico


"será que ela é moça?"
via vico: análogo-ironia
lógos, lógos, lógica; palavra.

louça ou éter: beatrice in
coellum

homero: lógica do arcaico
povo grego (akhilléus) -
há um homero,
várias são as lógicas.

descarta o método
silencia nova
mente

renga no canto 117

i lost my center
perco semelhante mente o x.
fighting the world.

luto no mundo, ao mudo.
the dreams clash
colapso de som-nhô.

and are shattered
exaurido estão e é.

- and that I tried to make a paradiso terrestre.
dal centro al cerchio, e sì dal cerchio al centro
movesi l'acqua in un ritondo vaso,
secondo ch'è percosso fuori o dentro:

ez pound


ez vencido
pêlo cansaço

as rugas de
tecido ainda
mostram suas
fôrmas: quadro
emoldura um
corte ao meio -
make it new:
the light now, not fo the sun
i have eaten the flame -
troubadours
espantam o tédio

afora-ismos

Negar o mérito, mas fazer o que está por cima de todo aplauso, incluído por cima de toda compreensão.

Todos os ideais são perigosos porque rebaixam, estigmatizam o real, todos são venenos, mas imprescindíveis como remédio provisório

La bêtise n'est pas mon fort

PODERÍAMOS NIETZCHEANA OU

TESTIANAMENTE CONDUZIR-NOS

AO (D)EFEITO DA FEIÇÃO - COMO

FAISÕES, DORMIMOS CALADOS COM

OLHOS RAPACES - PELA CARNE DOS

AINDA AQUEUS, AINDA REGIDOS POR

OLHOS-DE-CÃO: JOSEPH K. SE HÁ CUL-

PAI-NOS.

homero e eu



ménis não,
litoral. ez-
tranho re-
goz-
o

retrospecto


queria tentar um retrospecto:
como fazer com que leiam ho-
mero? em que tudo ali em-si-
cena algo.

queria tentar um retrospecto:
como fazer ler homerós? quer-
o fazer cena como tudo no al-
go, lovely rose.

queria tentar um retrospecto:
como homère possível? repete
o fazer-se na rosa amada de go
ao remar contra.

queria tentar um retrospecto:
como leitura homer? releiam
no busto, apenas tudo expos-
tô, em mármore cego.

queria tentar um retrospecto:
homero! o mar ainda violeta,
rósea dactilo aurora, fecha o
mar, em uma batalha: reading

park - queria que fossemos um
cárcere.

ano grego: fora com sócrates.

sábado, julho 15, 2006

arte em fuga


quando se termina -
arte em fuga -
há uma suspensão
ou angústia?

gleen gould: repete,
repete. em cordas,
também interessa,
mas e a suspensão
ou a angústia?

bach: incansável

alívio (gutural)

vinte poemas para construir um poeta

01. mallarmé, "un coup de dés"
02. homero, "ilíada"
03. pound, "the cantos"
04. joão cabral, "o cão sem plumas"
05. arnaut, "l'aura amara"
06. dante, "commedia"
07. "the seafarer"
08. safo, "hino a afrodite"
09. huidobro, "altazor"
10. hopkins, "the wreck of the deutschland"
11. rimbaud, "le bateau ivre"
12. maiakovski, "a sierguéi iessiênin"
13. eliot, "the waste land"
14. villon, "le testament"
15. goethe, "wandrers nachtlied"
16. shakespeare, "monólogo de macbeth"
17. guido, "donna mi priegha"
18. góngora, "mientras por competir con tu cabello"
19. poe, "the raven"
20. ovídio, "as metamorfoses"

réquiem para camões

requiem aeternam
repousa lentamente,
resto de riso e palavra.
repousa eternamente,
recusas d'alvorada.

no rio mekong, aquele
texto poderia ter deixado
a vida da donna - mhia senhal -
mas antes perder um olho
ao peito ilustre: o rei, jovem,
ainda viria a ser um nada-tudo.

vênus perpétua: moçamba, quíloa,
goa, melinde, tormentas, calicute.
torna a lisboa - ulíssona - e o vasco
passa além de belém.

no restelo, hoje habita um padrão:
todo pedra que apenas lembra a
campanha dos amores. hoje, camoens,
passa muito além do pórtico-belém ou
dos jerônimos: rubens chiaroscuro.

repousa, oitava rima, o repouso eterno
de agora - teu manuscrito uma ágora -
em que tuas tágides revistam-se de luso
luto: sem-túmulo, por não poder, pois
imortal é a letra tua do verso teu
que os corações humanos tanto obriga

vinte teorias para construir um poeta

01. mallarmé, "crise do verso"
02. pound, "the spirit of romance"
03. joão cabral, "poesia e composição"
04. poe, "filosofia da composição"
05. gracián, "agudeza e arte de engenho"
06. aristóteles, "poética"
07. haroldo, "arte no horizonte do provável"
08. valéry, "poesia e pensamento abstrato"
09. spina, "na madrugada das formas poéticas"
10. octavio paz, "el arco y la lira"
11. heidegger, "a caminho da linguagem"
12. derrida, "che cos'è la poesia"
13. meschonic, "pour la poétique"
14. jakobson, "dois aspectos de linguagem e dois tipos de afasia"
15. borges, "esse ofício do verso"
16. bense, "estética abstrata"
17. goethe, "poesia e verdade"
18. eliot, "a música da poesia"
19. poe, "eureka"
20. pound, "abc of reading"