sexta-feira, outubro 13, 2006

apoteose de homero


rasa ilíon santa, corte
de hinos - espondeus -
multinavegados, assaz
fogosos: entre lotófagos
os versos ecoam em
delírio rubro, polifluente
mar, oinopa ponton,
umbigo da escritura ante
letra. lascas de seu busto
heróico-cego, falange
de pêlos odor do hálito
que enleia homens, à
desventura aquéia de
querer glória eterna:
oneiros ajustando o
canto, olor ilias.

contadas as naus, o busto
sobrevém em dolo: dem-
ência do demo, doidivã.
dos mirmidões à ébana
nau negra do astuto: linha
da história, meta-história
eneleada de amigos, hélas,
lendo os livros todos.
emerge, mago, desta bengal -
sustendo a mente, imago de
andros - e em dactilorróseas
linhas, horizonte solar, celebra
os cavalos celestes, célere
saindo do mar: corpo, natura-
morta de mulher: helena.

ENVOI

feito de flor, orvalho teu semblante
discurso se faz javista de linguagem
dor do povo, glóriaklêos, polýdakrus
teus simulacros todos reverberem
no portentoso leito, tálamos thalásseos,
murmurante suspiro do polifemo-ásneo,
kikléskousi, “chamando-me... ninguém”:
canta, hom, nesta nékuia que refulge a
psykhén kikléskon patroklêos deiloîo
clamor da psiquê, invocada da patrocléia
ira, astúcia: thýmos de melodia, verso
brocado, blúmeo viandante, em noturno
rio, invocando as lifféias salobras: canto
sereno de sereia: r é s.

múmias dos pântanos

inesperada pele
sobre os ossos,
gris, capeladas:

corda no pescoço:
gris, mas total-
mente composta.

de cócoras, pós-
julgamento, testa
límpida, enrugada.

nos pântanos, sem
preparo, o gorro
sobrevive ao tempo:

pés perfeitos, gris;
a anca, costelas e
pele; perfil, dante.

große fugue von beethoven

recupera os olhos, cabelos
revoltos, variação, vórtice
rememorante da natura

náutico abismo sobrevém:
naufrágio de pedras, andro
namorado em tríplice som

sonho dissonante, tons, loa.
soturno salto, violeta hybris
sonora, santeando, presto si.

sibilante fúria do não, em maior
silente allegro de cordas, daquel
si, surdo: sobrepuxa movimento.

quarta-feira, outubro 11, 2006

ateliê nas próximas terças

imagem do mondego


paira ainda um corte
- tecido de bordar, voz -
treme o chão, uivando
mal ditas palavras, infausto
anúncio, sentença de gentes
- corte, à mão, tece à destra -
conluio de coroas, convívio
exílio de madrágoras, púrpur:
relicário, escorrem maculosos
os peitos do por achar.

lira para fabrícia (i)

murmúrio pende em
dossel quebrado, colo
furtivo, que cessa a de
límpida memória: saúda
à voz de vento, de vozes.

murmurío afaga em
cópia, do nunca houve,
em testar-se pluma,
mover-se nágua, ainda
calar-se nua: alívio de ar.

à dama inês, desaventura talhada: úa vontade sua



sussurra "pedro, pedro"

em voz veludosa e pêlo

engomado, lúcida e voraz,

da mãi de netos, de reis

vindouros ainda restam:

o fico do que ficar.

calor em manto de lágrima

colorada, em quinta de famas

miserando, amor maior que

rege a divindade, de túmulo

em branca pedra e pele basta

adornos aos carvalhos e lâmina

entrecortada.

da coroa, majestosa magenta,

fez-se um dia trelladar o corpo,

em curtos, cóleras: vê-se o belo

oiro - broccato, renda colorida -

carmim jorrar do engano, o cego.

memórias dinas ao caso triste,

quebrantam, revoam revés ad

locum tuum: sem rezam é a vers-

ada - ramalhete, tufo de caules

servis ocreado, bulbo orquidário -

m o r t e: sussurro do após.

terça-feira, outubro 10, 2006

memória em livros


em holland park, london,
esmorreceu ainda um há
de livro, página e térmita.
em holland park, anos 40,
o labirinto persiste estático
e ainda a oferecer capas sob
a bomba, 2h40m de bomb-
ardeiro sobre a cidade, sem
vestígios do centro, sem
muralhas carcomidas, mas
persistem, queimando uma
aurora, de homens, mínimo
três, bem enchapelados.
caput em vestimenta buscam
um interlúdio daquilo ainda
porvir, de anos em retrocesso.
em holland park, fotografado,
o concerto solitário de machados
ainda decapitam a alma de
senescentes óculos ou ainda
da esperança, em negro, da vinda,
ainda que gozosa, dum estrondo:
pletora, em holland park
um haver de palavra, moldada,
de como quem rouba um
livro, uma palavra, a frase,
limada do que limar, entre vigas,
veios, vedas, tâmisa em feixes
fraturados, neste instante, em
holland park, london, 1940, o
livro não parou, fogo, continua
campanário, s i l e n t e.

quinta-feira, outubro 05, 2006

à margem de Άννα Μαρία Καικιλία Σοφία Καλογεροπούλου

coloratura: isolda de imagens
máscaras de voz in mezzo del
camin'.

anna maria, plurabella violácea
e rubra das tensões, tendões da
voz.

noite transfigurada: morre a
isolda - ireland desperta - em
foz.

scherzo: passos miúdos, rodopia
- espanto - pleno plectro nascem
serenas.

minueto: selva oscura de prazeres
voz e fonte: τέρπεω - delicada - χoρός -
dança, coro.

Σοφία

em um salto, premeditado -
prática poética -
os pêlos grisnevoados
ressurgem em instante -
segundo ou minuto -
terra, ocre que me
recorda o ainda não visto
mar egeu.

ode a maria callas

wagneriana, a voz escorre,
fluido liquescente, vocifera
em agudos a pobre turandot.
por ironia, a cantante, musa
héndeka, satisfaz ouvido e
voz como se à garganta de
puccini ao não concluir a peça:
da china transcorre in questa
reggia puro gozo ou silêncio
diáfano - imagem deifica, imago
ou pureza de castelos, pássaro
ou filomela; apenas crisálida -
inflexível teia; filame de penélope
que cercilha - kérkis - o rever-se
em sonho ou tempo: noite trevosa,
monturo espaçado em templo de
listras - tigre turbilhonante em
floresta negra, ébano. grito de
morte, palpitante, feito nova de
ocaso, caminho extremo. ao fim,
hybris de voz encarna máscara
a mascara: cenários de tez e
adunco nariz soprando cálida
cor, cor, voz, voz: espéculo.

segunda-feira, outubro 02, 2006

hoje, nada de metafísicas
ou poéticas:

petição é, hoje, poema

ou além-hoje, poema
deve ser bomba lançada

poema é, amanhã, petição

ou além-ontem, petição
deve ser lança-chamas

amanhã, nada de poéticas
ou metafísicas:

sangra, agora, o vermelho
alegria que se esvai num
coup sem acaso, num estado
sem lei, mas dizendo-se
per se, moral

calemo-nos, remotos

define a sua cidade, gregório de matos com modificações

De dous ff se compõe
este país a meu ver,
um furtar, outro foder.
Recopilou-se o direito,
e quem o recopilou
com dous ff o explicou
por estar feito e bem feito:
por bem digesto e colheito,
só com dous ff o expõe,
e assim quem os olhos põe
no trato, que aqui se encerra,
há de dizer que esta terra

De dous ff se compõe.
Se de dous ff composta
está o nosso Brazil,
errada a ortografia
a grande dano está posta:
eu quero fazer aposta,
e quero um tostão perder,
que isso a há de perverter,
se o furtar e o foder bem
não são os ff que tem
Este país a meu ver.
Provo a conjetura já
prontamente com um brinco:
Brazil tem letras seis
que são BRAZIL,
logo ninguém me dirá
que dous ff chega a ter
pois nenhum contém sequer,
salvo se em boa verdade
são os ff da cidade
um furtar, outro foder.

gregório por nós

Quem haverá que tal pense,

Que uma câmara tão nobre,

Por ver-se mísera e pobre,

Não pode, não quer, não vence.

silêncio político

pólemos: debandada,
à bandalheira azul, em
atos, catos, matos -
um hora, pane em sp,
espera, espera, espera;
de repente saem os dois
e apenas 7 pontos do povo.

pólemos: bandalho de velho
resmungão, azul-amarelo,
sorriso cínico - feito cão -
sorri às fotos compradas,
às manchetes forjadas, aos
700 vestidos de primeira
dama: uma hora em pane,
sp parou? saem, os dois,
devassos carecas.

pólemos: arranjo orquestrado
de ratos, verdade ou certeza.
da bandeira, hoje retirada, uma
gota do vermelho - sangue de
povo e não de nuvem - morrão
ardendo ainda, conluio, conchavo.

pólemos: e o homem, de barbas
brancas brandas, ainda resiste:
ora quem já levou pancada, sem-
pre mais difícil um aconchego.

pólemos: põe logo pra fuder,
como em el salvador, único
do globo que compreendeu
que superávit não é apoteose
e estabilidade não é povo, mas
antes palavra - até feia - que
impuseram, incalcaram;
pois nessa cidade o que falta,
gregária e gregorianamente:
verdade, honra, vegonha.

sexta-feira, setembro 29, 2006

richard e shakespeare


richard, the third:
king-horse: sabedor
da liturgia, entre
o que pode e o poder
brindam o término do

dia, em que se perdem.

epitáfio shakespeariano

a horse! a horse!
my kingdom for
a horse! ricardo
dizia em outra l-
íngua, movente,
sofrível em esp-
aços: tempo, trá-
cio e mortal de
um índicio, sinal,
em despoder. and
i will stand
the hazard of
the die: tomba
a coroa direita,
sobre homens, e
reluz, à sinistra,
um sinal de espera -
the day is lost -
ou invenção em
que o homem
se faz, fará. é,
reverberando.

segunda-feira, setembro 25, 2006

a máscara mortuária de dante


abaixo desta máscara-
gesso, que cerca e sitia,
havia - do exílio em ravena -

terzinas. sob a máscara,
dante petrificou-se ao acaso
das consteladas donnas

beatrice(s) e auroras dedicadas
à visão da ilusão, imagem do
fim, canto xxxiii, em que a

deidade se perfaz em número
jazendo em apenas um uno
devario beato, sopro ou sussurro:

um muro de charcos e da ilha
áurea - primum mobile - arco
dourado do santo ou santa que

apartam virgílio de sua jornada,
tornado ao limbo, sem batismo.
o corpo crédulo caiado cai: como

enfim, alighieri, sem terras, retorna
e sente paolo e francesca, amantes
infernais, retombados ao barco ou

ar em que um arauto poderia guiar
esta face austera rumo aos astros
comoventes de esferas estáticas ou

ainda representações de luz, estrelas
em aparições - virgens imoladas ou
cruas - estrela-phános: rosa-dos-ventos

em 32 moventes paradas, roda
de rumores rastejantes em que
sai a guiar-se, em travessia, por

altre stelle. movência.

sexta-feira, setembro 22, 2006

retorno a ítaca

de um só soluço de esferas,
aguardam, os andros, as cos-
tas do rei: polimétis. a hermes
sombreiam, pós-colunas, à
insula-peninsulada diablin or
dyoublong... hermes, dá termo
às porções de circe: moly, planta
bloom:

da joyceana tigresa ao antídoto
grego, os ardis ulissáicos resso-
pram na voz de leopold, un fou,
que espera não uma penélope
tecelã, mas nausícaa que vê a
nu, a nau doutra época em que
a diá surge, transparece? diá
phanós, é som e acaso.

quarta-feira, setembro 20, 2006

variação de baudelaire


sur ta chevelure profonde
aux acres parfums:

espelho de pele, vinho da manhã
ante-manhã: frio, frio, mas
igualmente dançam minhas
serpentes duma source de gelo
ou da boca, borda de dentes.

estrela, estrada estiagem de si.

bloom oder blume


das blume, mr. bloom:
is it not blumenkohl?
nein, it's only blumenau!

saint rose: 70 cannons,
from salvador. a nau
virou-se ao atlántico!

mrs. bloom knows an-
other seems: analflower:
o tell me all about ana livia.

in the liffey, das blume
isst ein blumenkohl:
aguardando d. sebastião.

dum som de comentário

o som de rodgers and hart:
rebrilham em rochas ou cor-
ação: my funny valentine.

risível (laughable) o aquilo
unphotographable

menos que gregos ou do
falar smart-olhos:
diadorim ressurge em
diamantes de óleos eólicos.

cada dia: um dia valente.

um pouco a mais gozar rimbaud

"où les serpents géants

dévorés de punaises

choient, des arbres tordus,

avec de noirs parfums!"

un peu plus du

rimbaud (partitivo)

abram-se serpentes - gigantes

de calor ou decoros pugilistas -

escolhem, em árvores do cerrado,

nus e ébanos perfumes.

segunda-feira, setembro 18, 2006

ditirambo nietzschiano ao dia 16-09-2006 (sem explicação ou credo)

pagar na mesma danaca

fumaça em olhos, em espera,
o barqueiro, dos olhos: hipogrifo
hoplita de horas, hespérides.
de quem não vê, nada vê
diante de si, ou que em
si condena: atitude revela.

há de dançar, dânae (em
estática fotossíntese) dan-
ação, delírio de conhecer-
se daquilo que desprezo.
que carregue as danaides,
traidoras: doudas dan-
ça: suffit! dano, lesão
daquilo que esquivo ou
repulso, pois nada em si
traz o sal, o rubor dum
sorriso que lateja alegria.

domingo, setembro 17, 2006

resgastos duma festividade


mesmo que da ausência
rubra - turbante de risos,
vai, vai, vai não vou, val -
a diaba formação dos
quadros soçobra nas ventas
frescas - concretas - de
limoeiro, lamaçal:

corisco olímpico soscreve,
da liberdade nua de quem
não deve a nadie rien, ouvi
em pleno alarido, um antônio
de mortes atravessando
a sala até terminar num dylan
caetanizado daquilo que cê
pode imaginar.

rastros inscritos pela casa:
cinzas, l'eau de vie e ainda
mais, em lembrança, vida
jorrada das 13h40 às 1h40.
doze as horas que ao som
alvo-ouvido misturamos chão
e chã palavrório em um
enigmático subscrito - código
cifrado ou disco phaistos -
dum poema personando do
único - aparente - lúcido (ou-
tro pessoa: "merrda! sou lúcido")
ou daquela que em cartão
ousará sobressair de um anônimo
sortilégio: forte retomba 3
cálix de algo vivo.

88,1: rádio. como que calada
observa! observa? e nova-
mente dança - quase nagô -
de tão ávida, cal. veludo ves-
tido por esperas, cantos de
sereias serenas, canto.

percorre clicks, câmara oscura
dança, pés e um asa de graúna
(ouvi, in loco, um alencar salt-
ando da digrafia do johnny brabim):
tecendo, tricolagens em pelo
tapete de livros: impossível
não lembrar das mil aves do
osman que "maria" e abel são
mortinatos.

rasgos de cevada, semeada
dos silêncios comunicados
pela ou à leitora. rastros das rel-
ações observadas por quem
fabrica:
a bela áurea, novistellar, eterna
em seu azur mallarmaico (ou de
mistério, desestabiliza estados,
reconduz o segredo para a fala,
para a escrita do desde olhar:
conluio aflito e necessário de
eu digo sim eu quero sins)
daquela que, entendendo a bênção,
ama e amo.

sábado, setembro 16, 2006

poeminha sujo, velvet


Im gonna try to nullify my life
cause when the blood begins to flow

pensando em mallarmé (3)

l'absente de tous bouquets:
esta foto, nadar a fez para
príncepe, suspensão de a-
caso dum reino em que se
faz de céu, a morte ou nada.

antes, de fleur - som que diz,
contrário à nuit que enleva -
ao não saber que dali um ano
o jogo é feito, lança. e seu sor-
riso sobre o branco, devém.

aos olhos de poucos, o náufrago,
polýdakrus, se reconduz àquela
esposa do fim: ainda gesta em
que o princípe, de palavra, conduz
uma exclusão fora-incluída de si.

par'além planície a tarde suspirava
aqueles dois últimos anos, valvins
coroada de flores que no' mais.
musa, cala! fauno desteceu-se de
pernas, cornos e flauta: indo além.

quinta-feira, setembro 14, 2006

oidé a pisístrato


se
das línguas homéreas
- espondeus ou dedos
róseos dos pés - tu não
estivesse entre o séc. vi
e aquele pericléico: nada
dos cantos havaria.
ne
varietur: oficializa
o nóstos helênico à
função do escrito
da glória ou gozo extingue-
se
a íngua da ameaça dórica
- anúncio do fim peloponésio -
destronasse a linear grafia
minóica - pobre rei pelas
costas em púrpura apunhalado.

sábado, setembro 09, 2006

balzac?

eugénie grandet: livre
palavra que - sem óculos
ou lente - organiza
uma visão da linguagem:

livre habitar do presente.

sophia (4)



entre livros, o focinho

se refaz em cheiros, á-

caros às térmitas que

somente de um salto

reconduzem o pêlo,

felino traço ou morada,

ao ethos em que habita

à margem, lombada, de

palavras, em desempenho

azur, olhos inflam - pupilas

em fino arredondado - como

que captando o globo de

estrelas que a antecede fr-

ente à rosa - de travessia -

em que ao maio não se vê

setestrêlo: dados lançados

ou fio partido, em parcas

da memória do apenas um

miado.

sexta-feira, setembro 08, 2006

pensando em mallarmé (2)

a cada monumento de estação
fez-se de azur a guinada de trens

nó - trevo, bo - se desfaz: mísero
corte da língua sobre a genitália

dos dias, dos dias, dois: linguagem
do inverno, a que tudo nego.

desabo

sempre posto à margem:
exclui, como tule rasgada
em procissão partenéia,
ao ergástulo de escravos.

posto à margem: aos que
impedem surgir do vinho,
vida; aurora contável de
suor, corpo, tez, aos olhos.

posto à margem: talvez
sonhe a irma de freud, talvez
a face sem barba além do
prazer de cravos, cativos.

posto à margem: escarva
a nódoa em que do pescoço
interpõe-se a fonte, lesão
oblíqua que ao mim sustém.

desabo, bafor blásfemo daqu-
ele solta-membros: pulsione
a pele ao pendão de érebo,
posto ao sempre à margem.

stephen em bsb

salticaminhando entre pedras
porosas de cal calcário e nódoa,
o mítico labirinto se perfaz em
números - quadras - esculpidos
por entre-rochas, caminhos de
tesouras, ouro vermelho, ao pó.

do dedálico mommymento conti-
conteava estórias do giant finn:
olhos em lume, ciúme confirmando-
se do rosto de ezequiel sobrepõe-
se o capítulo se encerra anterior.
o gigante de bruços, abismava diablin.

dedalus, em sua loucura shxpr, nome-
ia o pai, jornada rememorada duma
viatge ulisséia, sem pai ou da esper-
anca da leopoldínia (marfim-vegetal)
mrs. marion: bold hand. mão boba
em que gibraltar, hercúlea finnda o globo.

dedalicamente a aurora acumula-se,
acrópole rememorada em chuva á-
cida, enterro de mortos ou celebração
de vida - exu guerreiro garrido ou glória -
em que sua cidagã prepara o padê em
verme do alado ícaro, próximo ao sol.

sexta-feira, setembro 01, 2006

variação de um afro-samba

cor, cor, cor: do rei orixá
salteando boniteza da sanha
no mar, na terra, em ar.

amor morosa rosa salitre
trevo voraz raso sombra
braseira rastejante hiante.

cor, cor amarela: exú ou ainda
ossanha que não brinca de amor
ou não permite saltear querência.

não sou, sou, não sou: mandigueiro,
galinha e êxtase pelos espelhos
de uma aurora do manhã: : :

saravá, àqueles que sonham ou
ainda conduzem o destino em
branco, branco, branco: rei orixá.

atualidade de um tema belicoso ou de morte


benjamin, sonhando com anjos,
esteve preso a um muro de es-
pinhos e mastins, violinos tocan-
do estocadas de soldados, generais,
que conduziam ao fim, por números
impressisos em braços tatuados.
benjamin, do lado esquerdo da estória,
sonhando agoramente - jetztzeit -
com possíveis cantos iemanticos
duma tristeza ou solidão - língua es-
cravista - ou de rosa - em que des-
troído, ruminando balas de metralhadora
ou cídio de si.

celan, distante do eu, pela arte. entre-
vê seu companheiro, de língua, talvez
íngua inócua, em todtnauberg - nau de
morte ou realidade de silêncio - dali
se cala ou desfaz o verbo em que o isso
se dá, insiste em não se escrever. falando
sombras, digo verdade; palavra cadáver
em que o abismo do sena se fará espectro
- corpo a corpo nas águas - wortnacht!
êxtase de meu córpedra, meine fenda,
tenda das palavras de rio, rio, rio. ir-ao-
fundo, ao ir fundo, cf. celan: meine
muttersprache ist die sprache der
mörder meiner mutter. sem mãe,
a mátria escurece-se no vidro de uma
schoá em que todo poeta deva ter
aura, reconstrução, ser árabe.

terça-feira, agosto 29, 2006

Δίσκος της Φαιστού ou um paragrama em creta


da hecatombe tornada em
mel e água, vinho meticuloso,
revém da natura, origem, o
sentido ágrico, árido em voltas
da cabeça plumada, do elmo
efébico, tira ou escudo em que
se escreve a inscrição de que
aqui memória já desteceu-se:
trama de mesma estória dos
brutus.

um gato, ou uma flauta direcionada,
sobrepõe o sentido da palavra
dita
escrita
grafada
em
d i s s e
m i n a
a ç õ e s

sereias de odisseus



serena sereia sobrevoa sobre

lua luzente, lápis lazúli, langor

canto conluio credos e carne

em folhas sonoras e alumiada

pluma que cai - corpo - como

dados,

ou retorno às naus.

provença fabricia

à maneira proençal:
mhia senhal, querrerte
é às avesses sentir o
sen de escripta que hã
em nume do fabrico.

derivação de flaubert

da cortiça na parede
relumbra a silhueta
toda gorda, bigode,
e reluz a testa despi-
da fronte-instrumento
em estória, papagaio,
santos e arsênico. mme,
sonha às avessas deste
homúnculo! foire, foi-
reconquistada: sobre-
grafa, copiosamente,
a folha que nada diz,
nada sabe ou quer.
da cortiça da parede,
abelhas rememoram
gustativamente aquel
homem-pluma.

érato e os românticos

se, cf. álvares, eu morresse amanhã,
não queria lápide, inscrição dos grandes,
mas antes uma mélica em que se ousasse
ouvir o palmilhar de pálpebra prestes
a cair. se, cf. dias, se morre de amor:
era-te desejo somente, espelho de negação,
e corpo que sim se morre. olhos grisalhos
em que ainda sobrevêem o vôo de ave ou
leve palha das maitacas que anunciam a
travessia do nhô.

domingo, agosto 27, 2006

brinde ao corpo


dyoublong? frontispício
de aquém linguagem,
some como jovens, asas
desplumadas ou dobradas,
feito livro, feito farsa: encena-
ação, máscaras. lamina a
fronte em que nossa pele
pôde se desprender, em água
fervendo, daquilo que escapa
à língua, o langor.

instante em hegel

temo perder com os olhos
o delírio em que de coisa em

coisa meu corpo soletre as
falhas, fendas, furos fixos.

temo perder com os ossos
o momento em que do vidro,

translúcido, claro, sobrevenha
a nódoa, o miasma, o lodo que

escureça a vista e retire a cal
do dia, tornando o mundo em

realidade.

claritas e consonnantia

dum golpe de fadas:

salteia no abismo da
fala em que não mais
se necessárias são as
muletas de vera verd-
ade. salteiam, bosque
de náufragos, frente
à constelada ursa, do
chão, que margeia o
sétimo número em que
a morte joga dados, ou
enxadrista, rememora
a palavra primeira, o
chão-palavra que do
poema advém sendo um
apenas abismo:

Ab-Grundsprache.

segunda-feira, agosto 21, 2006

lírica em que os nomes de tristão e isolda se referem aos de fabrícia


de um senhor, tristão, ouve-se o canto
violáceo das damas convulsivas de
negrume, fumaça, e peles sobre-puxadas
do corado noturno, do mútuo afã em.

do canto violeiro, à nau noctâm-
bula reinscreve o monturo do dia
como alvor e tempo - alguns alari-
dos e um batuque - tarde, enquanto.

compõe a morada, náufraga e noturna,
daqueles doze hemisférios hercúleos
- capelão sobredoura seu tratado cortês
em prol de damas, senhoras, solstícios.

saltam-me, de um liffey escamândrico,
os círculos de horas, minutos em
que te leio às margens da espada
ou escudo do rei marc ou daqueles

que em bretanha isolam a isla sonora
do réquiem de bebidas e muro de língua.
soçobram as esperas, hespérides, num
bosque em que a explosão de amarelo

será. soma meu corpo ouve a si como lei,
anotada de malhas e teias de lã e olhos
fechados - leva para sempre - a voz de
triz - lusco-fusco do desastre. perigo de

felicidade, sem veneno, resgata a pueril
sentimentalidade dos olhos refeitos, re-
agrupados em sua frase: i so late. frêmito,
mimo, enquanto o corpo padece das estrelas

violentas - em azul e vermelho - daquele
negrume, pele, voz.

sexta-feira, agosto 18, 2006

trovar, nítido como pétala
nítida, trovar, como hora
enodada aos três eflúvios
de
a n g ú s t i a
i n i b i ç ã o
s i n t o m a

trobar clus, como corona
exposta de closura, ora,
desnodando o um do ter-
aceiro
r e a l

quinta-feira, agosto 17, 2006

trabalho oscuro

cômpito retilíneo, negroso
conluio rastejante, ocreado
convulsivas vias, magenta
com santuários, borromeu
em cada orifício do dia, sobre-
passo embrutecido de leveza
e aspereza de seda, inocente
treva ou jóia, enquanto ouço,
senil, mortuário, apenas aqu-
ele negativo de pequenas ho-
rasas mutilações e côrte de d-
amas; morosidade macilenta.

tapeçaria


em sépia, o fotograma move-se
lentamente formentando, à mem-
ória, o dia passado de um campo
- prado aberto de abetos - ou trem
em velocidade de visão ou olhar:
as cavas fermentam a espuma de
um vino que servirá o jantar.

sob um céu perfumado de azul,
o homem no espelho, lê o martin
fierro, as moradas dos cantos, e dali
descortina penumbroso lume de
sabença e calvice entre os óculos de
menino e a soberba da juventude:
glória de cantar, o dia passava em
cálices de voz, épos, após.

espada, fúria de batalha, guarda
sangue de ruído: das linhas incautas
de selvageria um hino soando. em
fervor, a cidade evoca alamedas de-
coradas de luz, sangue, azul e branco.
adagas, sutileza do corte, guarda
de malícia no sangue derramado ou
que jorra como ritmo inato, flor sem
buquê: dum graal em ponte, ciganos.

alighieri, multitudinous pictures, além
da faca empenhada de suor: feito som-
brasas e salto, delineiam-se os pecados.
sem homens, dançam as pernas em torn-
o peito arfando, arfanando, um fauno.
de três, os compósitos duma linguatura:
repetição, variabilidade e simetria; conduz-
se houver tempo ou acaso constelado.

em quatro, o buquê lança sua arfada, nó
que impossível se desfaz ao simples corte:
rio, trama, sonho, mapa. mil olhos contam
decantando palavra, então.