quarta-feira, outubro 21, 2009

esmirna/izmir


pérola de azul, a voz de heródoto
doa um canto fausto – cegas pernas
de homero – brilho leste, da mãe
de estreitos aos traços deixados
em relva, em runas os ramos do
pórfiro do talude – castelo veludo
do αιγαίο πέλαγος: pedra púrpura.

âmbar



voz de fruto, a luz converte
o rastro, calado, do tempo –
de toda fronte deflagra a
noite de arcos, deslizando-se –
de perfume, resta, silente
a morada: caminho, ainda.

quarta-feira, outubro 07, 2009

i(n)con(nue)


adormece a legenda,
alvos nardos, poços
deitados:

e canta assim o
espelho da lágrima,
doada, por trás da
cena;

a marca da tarde,
feita de ponteiros,
converte-se em seda,
a flora de memória
e escrutínio;

esvai-se pelos seios
a dama de copas,
forma de carne,
morada de entrâncias,
enquanto a nuca, simples,
aguarda.

i(n)con(nue)


pétala desabrocha,
sob o véu, sob o
tecido nu do corpo
e dos olhos, abaixo.

em sépia, toda dês-
conhecida ao tempo,
ampulheta de pernas,
às areias deixadas:

assim, some-se prévia
à festa, à fera, lançando
trilha e tear, de linhos
e madeiras; vesperal.

segunda-feira, outubro 05, 2009

homeros diversos, do braço à letra


Ὅμηρος:

οἵη περ φύλλων γενεὴ τοίη δὲ καὶ ἀνδρῶν.
φύλλα τὰ μέν τ᾽ ἄνεμος χαμάδις χέει, ἄλλα δέ θ᾽ ὕλη
τηλεθόωσα φύει, ἔαρος δ᾽ ἐπιγίγνεται ὥρη:
ὣς ἀνδρῶν γενεὴ ἣ μὲν φύει ἣ δ᾽ ἀπολήγει.

Odorico Mendes:

Como as folhas somos;
Que umas o vento as leva emurchecidas,
Outras brotam vernais e as cria a selva:
Tal nasce e tal acaba a gente humana.

Haroldo de Campos:

Símile à das folhas,
a geração dos homens: o vento faz cair
as folhas sobre a terra. Verdecendo, a selva
enfolha outras mais, vinda a primavera. Assim,
a linhagem dos homens: nascem e perecem.

Frederico Lourenço:

Assim como a linhagem das folhas, assim é a dos homens.
Às folhas, atira-as o vento ao chão; mas a floresta no seu viço
Faz nascer outras, quando sobrevem a estação da primavera:
Assim nasce uma geração de homens; e outra deixa de existir.

Carlos Alberto Nunes:

As gerações dos mortais assemelham-se às folhas das árvores,
que, umas, os ventos atiram no solo, sem vida; outras, brotam
na primavera, de novo, por toda a floresta viçosa.
Desaparecem ou nascem os homens da mesma maneira.

George Chapman:

When like the races of leaves
The race of man is, that deserves no question, nor receives
My being any other breath. The wind in autumn strows
The earth with old leaves, then the spring the woods with new endows,
And so death scatters men on earth, so life puts out again
Man’s heavy issue.

Samuel Butler:

Men come and go as leaves year by year upon the trees. Those of autumn the wind sheds upon the ground, but when spring returns the forest buds forth with fresh vines. Even so is it with the generations of mankind, the new spring up as the old are passing away.

Stanley Lombardo:

Human generations are like leaves in their seasons.
The wind blows them to the ground, but the tree
Sprouts new ones when spring comes again.
Men too. Their generations come and go.

Robert Fagles:

Like the generations of leaves, the lives of mortal men.
Now the wind scatters the old leaves across the earth,
now the living timber bursts with the new buds
and spring comes round again. And so with men:
as one generation comes to life, another dies away.

Hugues Salel:

Le Genre humain eſt fragile, & Muable
Comme la Fueille, & auſſi peu durable.
Car tout ainſi qu’on voit les Branches vertes,
Sur le Printemps, de fueilles bien couvertes,
Qui par les ventz d’Autumne & la Froidure,
Tumbent de l’Arbre, & perdent leur verdure,
Puis derechef, la Gelée paſſée,
Il en revient en la place laiſſée :
Ne plus ne moins eſt du lignaige humain :
Tel eſt huy vis, qui ſera mort demain.
S’il en meurt ung, ung aultre vient à naiſtre :
Voila comment ſe conſerve leur eſtre.

Leconte de Lisle:

La génération des hommes est semblable à celle des feuilles. Le vent répand les feuilles sur la terre, et la forêt germe et en produit de nouvelles, et le temps du printemps arrive. C'est ainsi que la génération des hommes naît et s'éteint.

Paul Mazon:

Comme naissent les feuilles, ainsi font les hommes. Les feuille, tour à tour, c’est le vent qui les épand sur le sol, et la forêt verdoyante qui les fait naître, quand se lèvent les jours du printemps. Ainsi les hommes: une generation naît à l’instant même où une autre s’efface.

Minhas tentativas:

como ao clã de folhas, assim é o de homens.
folhas que ao solo o vento entorna, outra árvore
novas as faz florir, irrompe a primavera, ateando ver:
clã de homens irrompe e desarvora, lado a lado.

ou

como à linha de folhas, assim é a de homens.
folhas que ao solo o vento entorna, outro caule
novas as faz florir, a primavera, visto tecido:
lado a lado, linhas de homens tecem-se e desfolham.



Homero em versão samba,
Nelson Cavaquinho:

Quando eu piso em folhas secas,
Caídas de uma mangueira
Penso na minha escola
E nos poetas da minha estação primeira
Não sei quantas vezes
Subi o morro cantando
A luz do sol me queimando
E assim vou me acabando.
Quando o tempo avisar
Que eu não posso mais cantar
Sei que vou sentir saudade
Ao lado do meu violão
E da minha mocidade.

domingo, outubro 04, 2009

nênia para mercedes sosa

todas las voces, todas
todas las manos, todas
toda la sangre puede
ser canción en el viento.


tâmara e cigarras, entre
pavilhões de terra e amar
de gente: mar deixado a
voz, cantante, repleta.

vento deixando-se, abre-se
mais uma das estações
de folhas, de homens:
rompendo o cais, o porto;

quando se tem solo às mãos,
deixando-se os olhos ao som,
soslaio de mercês de ouvir-te,
de todo canto. pele deixovoz.