sexta-feira, junho 18, 2010

nênia para josé saramago

                                       

ensaias a ti, forma de vácuo
e cegueira, assim.
à pena e pele, da ilha exília.
no tempo, em que te apagas,
o nome se borra e molda
texto e miragem, mucos
do dentro, das formas:
ainda a flor, mais antiga.

serras, ainda, a palavra,
o diálogo, em fluente
mácula e miasma do
dito-costume: morte
que aguarda, sempre,
os focos do desprezo e
à viagem, por tudo, des-
feita. a tudo um não, ético.

mas, agora, cala-te em
calcar de dedos: a escrita,
moldando-se, um senão
de contrários, o vão de arestas.
         

segunda-feira, junho 14, 2010

uma mística. lírica sob lírica

                                                                                                                                           a fabricia

ar e gelo, perfume de hera:
ripas e malhas, o silêncio
percalço e permanente –
sim, de fuligem e ar.

chama ao mar, música de frios:
o que és de brisa, freme
a única nota repetida, a
criança trazida e aziaga, chama.

água e nada, absorvendo,
nada compete aos rododendros:
menos ainda, a escritura de
tuas mãos, lançadas à água.

terra, como se seca, de vã
alvura: apercebeste a manhã
noturna – apenas um só
dos caules, devaneio, e terra.

dia, ânimo de túmulos, cumula
de palavra a pérola do dia.
suspira o peito – piedoso, cor
de mor – manchado, suspiro.
     

segunda-feira, junho 07, 2010

nênia para kazuo ohno


silente agora o corpo:
entre pó e branco.
preclara manhã –
as mãos de espírito,
molde, impenetrado,
o ar não se contém.

figura – limítrofe –
faz de foz, a face re-
talhada: em deces-
so, transpassa morada
e espera desse músculo:
afônico de grafos.

o nihil de palco, à
veste bordejada,
converte-te agora:
silêncio e recife, em
buta, teu logro, soalho
de vinhas – acordas, e
mar.
         

quinta-feira, junho 03, 2010

inquisição/départ



toma o secto, o seio seco,
esse anti-ofício do momento,
para si, apenas.


clausura e pensado – alta
fantasia – em nus e fossas,
um só respiro.


deixado, o querer parte –
lança – hier raus, às
nódoas, foscas.


pescadores, mente, ainda,
torturam, suspendem
a pena: um só silente.


afasta do colo, após.
          

terça-feira, junho 01, 2010

nênia para wilson bueno

"os rememorantes possuem ainda outra qualidade essencial ao seu ofício - alcançam perscrutar, mesmo no sono mais embrutecido, os sonhos que ali morrem e se movimentem com esta graça inquieta que costuma ser, dos sonhos, o seu maior triunfo." (wilson bueno)



desarolla o caminho, entre
punho e pulso: ainda rastro.
contaminas o cardo, em
possíveis matérias – esse mar –

da graça – zoo de signo – gárcea.

verto, no passado, o nascer,
entre dado e molde: salir em
la calle – mouriscas – o que
de si dispersa. há carne e sangre;

em lapso e lança, sub-limo.

exploras, no entanto, o abismo:
quimeras e equidnas:
reflexo e amplexo – si a sim –
de distância e, não sendo, sombra;

notas, assim, o estranho pétreo.

voz que flutua, enquanto –
a cera cava
o mó, a lesma – formando
a estela – ao fundo,
exato lazúli: zôon
logon (ouk)
ekhon.