sexta-feira, outubro 13, 2006

apoteose de homero


rasa ilíon santa, corte
de hinos - espondeus -
multinavegados, assaz
fogosos: entre lotófagos
os versos ecoam em
delírio rubro, polifluente
mar, oinopa ponton,
umbigo da escritura ante
letra. lascas de seu busto
heróico-cego, falange
de pêlos odor do hálito
que enleia homens, à
desventura aquéia de
querer glória eterna:
oneiros ajustando o
canto, olor ilias.

contadas as naus, o busto
sobrevém em dolo: dem-
ência do demo, doidivã.
dos mirmidões à ébana
nau negra do astuto: linha
da história, meta-história
eneleada de amigos, hélas,
lendo os livros todos.
emerge, mago, desta bengal -
sustendo a mente, imago de
andros - e em dactilorróseas
linhas, horizonte solar, celebra
os cavalos celestes, célere
saindo do mar: corpo, natura-
morta de mulher: helena.

ENVOI

feito de flor, orvalho teu semblante
discurso se faz javista de linguagem
dor do povo, glóriaklêos, polýdakrus
teus simulacros todos reverberem
no portentoso leito, tálamos thalásseos,
murmurante suspiro do polifemo-ásneo,
kikléskousi, “chamando-me... ninguém”:
canta, hom, nesta nékuia que refulge a
psykhén kikléskon patroklêos deiloîo
clamor da psiquê, invocada da patrocléia
ira, astúcia: thýmos de melodia, verso
brocado, blúmeo viandante, em noturno
rio, invocando as lifféias salobras: canto
sereno de sereia: r é s.

múmias dos pântanos

inesperada pele
sobre os ossos,
gris, capeladas:

corda no pescoço:
gris, mas total-
mente composta.

de cócoras, pós-
julgamento, testa
límpida, enrugada.

nos pântanos, sem
preparo, o gorro
sobrevive ao tempo:

pés perfeitos, gris;
a anca, costelas e
pele; perfil, dante.

große fugue von beethoven

recupera os olhos, cabelos
revoltos, variação, vórtice
rememorante da natura

náutico abismo sobrevém:
naufrágio de pedras, andro
namorado em tríplice som

sonho dissonante, tons, loa.
soturno salto, violeta hybris
sonora, santeando, presto si.

sibilante fúria do não, em maior
silente allegro de cordas, daquel
si, surdo: sobrepuxa movimento.

quarta-feira, outubro 11, 2006

ateliê nas próximas terças

imagem do mondego


paira ainda um corte
- tecido de bordar, voz -
treme o chão, uivando
mal ditas palavras, infausto
anúncio, sentença de gentes
- corte, à mão, tece à destra -
conluio de coroas, convívio
exílio de madrágoras, púrpur:
relicário, escorrem maculosos
os peitos do por achar.

lira para fabrícia (i)

murmúrio pende em
dossel quebrado, colo
furtivo, que cessa a de
límpida memória: saúda
à voz de vento, de vozes.

murmurío afaga em
cópia, do nunca houve,
em testar-se pluma,
mover-se nágua, ainda
calar-se nua: alívio de ar.

à dama inês, desaventura talhada: úa vontade sua



sussurra "pedro, pedro"

em voz veludosa e pêlo

engomado, lúcida e voraz,

da mãi de netos, de reis

vindouros ainda restam:

o fico do que ficar.

calor em manto de lágrima

colorada, em quinta de famas

miserando, amor maior que

rege a divindade, de túmulo

em branca pedra e pele basta

adornos aos carvalhos e lâmina

entrecortada.

da coroa, majestosa magenta,

fez-se um dia trelladar o corpo,

em curtos, cóleras: vê-se o belo

oiro - broccato, renda colorida -

carmim jorrar do engano, o cego.

memórias dinas ao caso triste,

quebrantam, revoam revés ad

locum tuum: sem rezam é a vers-

ada - ramalhete, tufo de caules

servis ocreado, bulbo orquidário -

m o r t e: sussurro do após.

terça-feira, outubro 10, 2006

memória em livros


em holland park, london,
esmorreceu ainda um há
de livro, página e térmita.
em holland park, anos 40,
o labirinto persiste estático
e ainda a oferecer capas sob
a bomba, 2h40m de bomb-
ardeiro sobre a cidade, sem
vestígios do centro, sem
muralhas carcomidas, mas
persistem, queimando uma
aurora, de homens, mínimo
três, bem enchapelados.
caput em vestimenta buscam
um interlúdio daquilo ainda
porvir, de anos em retrocesso.
em holland park, fotografado,
o concerto solitário de machados
ainda decapitam a alma de
senescentes óculos ou ainda
da esperança, em negro, da vinda,
ainda que gozosa, dum estrondo:
pletora, em holland park
um haver de palavra, moldada,
de como quem rouba um
livro, uma palavra, a frase,
limada do que limar, entre vigas,
veios, vedas, tâmisa em feixes
fraturados, neste instante, em
holland park, london, 1940, o
livro não parou, fogo, continua
campanário, s i l e n t e.

quinta-feira, outubro 05, 2006

à margem de Άννα Μαρία Καικιλία Σοφία Καλογεροπούλου

coloratura: isolda de imagens
máscaras de voz in mezzo del
camin'.

anna maria, plurabella violácea
e rubra das tensões, tendões da
voz.

noite transfigurada: morre a
isolda - ireland desperta - em
foz.

scherzo: passos miúdos, rodopia
- espanto - pleno plectro nascem
serenas.

minueto: selva oscura de prazeres
voz e fonte: τέρπεω - delicada - χoρός -
dança, coro.

Σοφία

em um salto, premeditado -
prática poética -
os pêlos grisnevoados
ressurgem em instante -
segundo ou minuto -
terra, ocre que me
recorda o ainda não visto
mar egeu.

ode a maria callas

wagneriana, a voz escorre,
fluido liquescente, vocifera
em agudos a pobre turandot.
por ironia, a cantante, musa
héndeka, satisfaz ouvido e
voz como se à garganta de
puccini ao não concluir a peça:
da china transcorre in questa
reggia puro gozo ou silêncio
diáfano - imagem deifica, imago
ou pureza de castelos, pássaro
ou filomela; apenas crisálida -
inflexível teia; filame de penélope
que cercilha - kérkis - o rever-se
em sonho ou tempo: noite trevosa,
monturo espaçado em templo de
listras - tigre turbilhonante em
floresta negra, ébano. grito de
morte, palpitante, feito nova de
ocaso, caminho extremo. ao fim,
hybris de voz encarna máscara
a mascara: cenários de tez e
adunco nariz soprando cálida
cor, cor, voz, voz: espéculo.

segunda-feira, outubro 02, 2006

hoje, nada de metafísicas
ou poéticas:

petição é, hoje, poema

ou além-hoje, poema
deve ser bomba lançada

poema é, amanhã, petição

ou além-ontem, petição
deve ser lança-chamas

amanhã, nada de poéticas
ou metafísicas:

sangra, agora, o vermelho
alegria que se esvai num
coup sem acaso, num estado
sem lei, mas dizendo-se
per se, moral

calemo-nos, remotos

define a sua cidade, gregório de matos com modificações

De dous ff se compõe
este país a meu ver,
um furtar, outro foder.
Recopilou-se o direito,
e quem o recopilou
com dous ff o explicou
por estar feito e bem feito:
por bem digesto e colheito,
só com dous ff o expõe,
e assim quem os olhos põe
no trato, que aqui se encerra,
há de dizer que esta terra

De dous ff se compõe.
Se de dous ff composta
está o nosso Brazil,
errada a ortografia
a grande dano está posta:
eu quero fazer aposta,
e quero um tostão perder,
que isso a há de perverter,
se o furtar e o foder bem
não são os ff que tem
Este país a meu ver.
Provo a conjetura já
prontamente com um brinco:
Brazil tem letras seis
que são BRAZIL,
logo ninguém me dirá
que dous ff chega a ter
pois nenhum contém sequer,
salvo se em boa verdade
são os ff da cidade
um furtar, outro foder.

gregório por nós

Quem haverá que tal pense,

Que uma câmara tão nobre,

Por ver-se mísera e pobre,

Não pode, não quer, não vence.

silêncio político

pólemos: debandada,
à bandalheira azul, em
atos, catos, matos -
um hora, pane em sp,
espera, espera, espera;
de repente saem os dois
e apenas 7 pontos do povo.

pólemos: bandalho de velho
resmungão, azul-amarelo,
sorriso cínico - feito cão -
sorri às fotos compradas,
às manchetes forjadas, aos
700 vestidos de primeira
dama: uma hora em pane,
sp parou? saem, os dois,
devassos carecas.

pólemos: arranjo orquestrado
de ratos, verdade ou certeza.
da bandeira, hoje retirada, uma
gota do vermelho - sangue de
povo e não de nuvem - morrão
ardendo ainda, conluio, conchavo.

pólemos: e o homem, de barbas
brancas brandas, ainda resiste:
ora quem já levou pancada, sem-
pre mais difícil um aconchego.

pólemos: põe logo pra fuder,
como em el salvador, único
do globo que compreendeu
que superávit não é apoteose
e estabilidade não é povo, mas
antes palavra - até feia - que
impuseram, incalcaram;
pois nessa cidade o que falta,
gregária e gregorianamente:
verdade, honra, vegonha.