quinta-feira, dezembro 05, 2013

nênia para nelson mandela




compareces em mesmo
testamento, testemundo –
esse da justiça, um só
terço –

teu olhar de dom a tom
escolhe, enquanto dizes,
diante da lei, o respeito
brando, sempre negro.

o mundo, de repente,
esgarçado, como tudo,
espera como que a
raiz calma, e nutres
de si, preso liberto, a
imagem do outro,
perpétua
               mente ali, por vir.

segunda-feira, dezembro 02, 2013

nênia para jeová




“desconfiam e aqui eu saúdo / sob a toalha as tenras carnes / como brinde à dor insaciável / com o encorpado vinho rubro” 
(jeová franklin, “abnia/ainda”)




vai, amigo –
desse é o tempo que
te corre, ainda, como
a cor e o cor de teu dia,
sorriso que sopra
o cortante, o exato.

vai, amigo –
entre a tinta que, derramada,
deslancha sobre a
madeira de imagem,
o todo fantástico de
um só suor, teu
brinde sempre
erguido, à festa
e ao pó.

vai, amigo –
sem adeus, sempre
mais, bem mais,
na dor que permanece
em cal, em letra –
a tua dura face
de pedra –
vai, amigo –



domingo, outubro 27, 2013

nênia para lou reed





a selva em um ruflo,
dessa corda elétrica, des-
se músculo, o peito ar
fante – um uivo, um fulvo –
de flor transtornada, vez
tida de margem, de mácula:



esse teu nome à lou,
« souvenir qu’on oublie » ;
crianças à cama,
what do you say? live(r),
enquanto fluem, a saber,
o branco, o líquido, o dia.

    

sábado, setembro 28, 2013

o intruso




de tua, o espesso
da língua, do dorso –

só o minuto da
última despedida,
de ti, às velas – toque

se tocar, timbre
límpido, límpida a
demora e tuas as
sobras: viragem, os

sopros, os dentes
e rabiscam o muro
desse olhar que é teu;
a pele da rua, do dito
inesgotável – em um

coração, outro, dizes
a palavra cerrada, cortando
o céu e o espaço, teu,
das tempestades – agora
guardado, como que em partilha,
disso a que se apela, demanda:

φιλία – φίλοι

sexta-feira, agosto 30, 2013

nênia para seamus heaney




“I rhyme
To see myself, to set the darkness echoing.”
Seamus Heaney


a hora, essa, espalhas
de canto e parte, alvo,
o cru do silêncio – raw,
silence

perderei, eu também,
teu funeral – a causalidade –
nessa manhã vaziolenta
do que tu calas

e te calam em um distante
corpo, copo, às cavas
de um mesmo sol,
que portas –

então o grande olho,
nas águas
e tempo.

quinta-feira, abril 18, 2013

o risco e a chance







teces, desde o corpo
– a sentença, o espasmo –
o pomo nu da palavra:



pluma e pássaro, rede
de mundos. enquanto tocas
o céu, às folhas todas



de tinta anilinas teu
lábio rubro, teus pés
de limo. espaças, logo,



a canção ainda a vir,
o rosto que emudece,
em modo, e seios



a figura estanque de
distância – uma só
renda, mesmo nó.