quinta-feira, julho 31, 2014

para o aniversário de meu pai


a meu pai, em seus anos.


O QUE – a ser pai – ensina do
tempo: seio e ceia, o duplo
de entreter e dizer, dar ao
saber uma outra metáfora,
um outro, que é também
rumo, falar que navega e
onda em paragem de es-
praia e caminhar.

o que – do pai – se ensina do
tempo: um só olhar, alhures
e místico, um sei quê. uma
distância nua – logo, dorida –
de palavra a som, do modo
de gesto, do estar em paz
em tumulto.

o que – meu pai – ensina ao
tempo: ter dele o mais forte,
sua fome – para no grão do
dia, a voz da noite, o rascunho
sempre guardado, esperando
o pó ser mais do que esse
tempo, esse minuto vazio,
– de uma língua outra, essa
que tive de aprender, por
escassa, por ser-te a tua
imposta, como primeira –
aprender, no sorrir, não ter
pejo de ver, mas guardar-se
fundo (por vezes turvo), como
o sabor estranho dos amarelos,
dos rábanos; o ramo de uma toda
colheita em que se bebe do
abismo o corte
do fôlego.