terça-feira, novembro 15, 2011

terça-feira, outubro 25, 2011


“Augen hat des Menschen Bild”
(Friedrich Hölderlin)



habitas corpo e espasmo,
como se, sereno-cerúleo,
outono antes de inverno,
folha aquém do sol, tua a
face – mil línguas, partidas –
apenas uma porta, à entrada
do abismo, e os olhos fixos
no decerto, caracol de monte,
arvorada – monturo de flama –
se muda, muros de jasmins.
habitas, os dedos altos,
tendendo o frontispício
de uma vala: penumbra o
nome e a besta que ainda
ornamenta o talvez do verso –
língua mouca, asas tênues,
e teu verbo ligeiro-breve,
que violas o mar-alto, o ascor
que é teu feixe, lenço esquecido
esta flecha, ruiva, torpe.
habitas o seixo, à terra.
e prenhe, salpicas o viveiro
de larvas, o jardim de sopro –
profuso-pilar, mácula de
noite e riso – fogo-maçã da
linguagem, essa do corpo
nu-folheado de húmus, em
que habitas e deve retornar
incenso – no sem som do dia –
à álacre-mirra do quando, de
dar-se ao antes inocente.
habitas e teu cenho liso
espanca a sombra e o sol.
                      
(foto de Minor White, Barn and Clouds, 1955)

quinta-feira, outubro 20, 2011


INTRUSO, o rubro
teu olho em fresta –
dela sua vela, onde
esteves e habitas,
flor e cálamo, alba
a faca – a terra partida,
à estrela, deixas,
convoca teu coro
de caminho e ócio.

à traça do silêncio,
arrancas o fole de
folha, de pássaro
e adagas, a vir
num tempo, outro,
de azul e tenro
leite espasmado –
ceras, em que nomeias
ainda minha pedra
fina, estanque, e luz.
             


(foto eugene atget, parc de sceaux, 1925)

sábado, outubro 15, 2011

 


ELA, amora –
viço e açoite, à luz
cedente. um corpo,
frestas de algodão
e fio, viola
o solstício. 

tens, à mão, o
rastro e a cerca –
ímpio, um olho,
como que rótula,
tornado gesto imóvel
secreto. 

esperas na fuligem –
colhendo tua demora –
o dia, de ramos e
verde, manchar
o tecido de roxo
e esferas.


(foto eugene atget, versailles, 1906)
           

convulso




pé ante pé –
a linha sopra teu
tempo: foz de
folha e dia.
     

segunda-feira, outubro 03, 2011

TRANS.POEMA - Oficina de Poesia e Tradução Poética

curso de extensão gratuito

às sextas, das 14h às 17h.

a partir do dia 14 de outubro.


01.   Linguagem da poesia no poema
02.   Duas Técnicas (1): Condensação
03.   Duas Técnicas (2): Deslocamento
04.   Ritmo: linguagem outra – analógica poética
05.   Pensamento e razão poética (cruel) – poesia e lucidez
06.   Tom da escrita clássica
07.   Tom da escrita moderna
08.   Tom da escrita contemporânea
09.   Transcriação: os princípios da renúncia do tradutor
10.   Ofício tradutor / poeta: questionar o vertido

terça-feira, setembro 13, 2011

Seminário DERRIDA

Seminário




organizado pelo Grupo de Pesquisa Escritura: Linguagem e Pensamento
da Universidade de Brasília

segunda-feira, setembro 12, 2011

palavra cálamo


sob o ramo, o cais
de verbos e
entradas, amoras
e teu dorso. 

tens do canto, gris
escrita, uma só
língua e pérola,
pálpebra soando. 

esfacelas, assim,
teus labirintos, rumor
calmo, mudas de
girassol. 

em ti, asa brotada,
um caracol
de letra, leda
lente, às setas, 

um só cego em
lábios inscritos de
tuas mãos. abraças
o tempo, as pedras.

          

terça-feira, agosto 30, 2011

moenda

so set its sun in thee
what day be dark to me –
what distance – far –
so i the ships may see
that touch – how seldomly –
thy shore?

                                                                                                                                                                   emily dickinson


deitas a pele, o braço e
à marca – leve pluma
de tinta – o rosto reveste
o calor de dias.

cantas-te a flama ainda
pérola, estampido –
hora extinta, promessa –
calando a foz.

móis o sem tido da
palavra – encalacrada –
forrada de fora e
colina.

assim, rubra, tua língua –
um outono de distância,
flor, deixada – sopra o
infindo penhor.

às lentes, rútila sílaba
feita, brisa e alvoroço, de
onde vejo e me
vês, revolto.
        

domingo, agosto 07, 2011

alba: trobar leu, o visivo do joglar



pedra-e-cidade: vila de médias –
o tempo, um outro. azur, violáceo.
route et grotte: à beira, cabreiras.
um só passo – de pá a pas – de forma,
o só aroma, vã lavada, desse meio
a mezzo. 

cidade-e-pedra: court à la villette.
de vulgari – a lauzeta de ventadour –
um todo parque de girassol, a língua,
sim, oxida em ouro – uma mais mas –
de mim, outro, a meio – o som, leve,
de engastes.
                   

sexta-feira, julho 08, 2011

limite

pela salitrada refração dos muitos sóis;
 – arqueja a ilha.

                                                                                                                                                                      mário peixoto



corpo rente, no próprio
da palavra –

esperas, à cava verde
ondeando, monturo
falhando, um

só pulso, de assim,
erguer-te – como se
o prisma de teus
aterros soprasse sono

e calas, temperança, o
olho que goteja pássaro
e torre, pasto de
hora e gleba – lua luta,
nova –, só passos:

aspiras o gesto – tuas
ilhas – de casa e cal, a
que foges, desperta.
um só ponteiro, gorjeio,
refém de afãs, esta,
mnemonau.
                   

quarta-feira, julho 06, 2011

novo ensaio

meus caros,

segue o link de acesso do meu mais novo ensaio.
aliás, o tenho como um de meus prediletos...
sobre a questão do nome em joyce e freud.

divirtam-se.

http://www.anpoll.org.br/revista/index.php/rev/article/view/193/205

sábado, julho 02, 2011

escrever, mild und leise

no escarcéu-reboante
do mar gozoso,
no úndeo-perfúmeo,
no eco-ecoante,
no mundo-alentos
do todo-arfante
embeber-me,
fundo-abismar-me,
incônscia numa
suma volúpia!
  
                                                                                                                                                                    richard wagner
(transcriado por haroldo de campos)
  
 

à hora deixada de luz,
sob a mesa, papéis e névoa,
o tecido manso ricocheteia
de coitos e gracejo – só foz
inaudita, 

avançando o longo, fogo –
à fala, às mais de sussurro,
o fumo. estranha, pluma
lançada – eis, e eu – um só
riso de ouvir, palavra: 

dedos, metal de máscara,
grãos de rastro, sobrevêm
míopes e finos. e tu, roseta,
calcas o senso, o mocho de
dentro e fora, a nu –

de um sol, trepidando,
fora, em hastes – doce o
cálculo, circular, ínfimas
almáfegas as letras – o só
trino.

a luz, breve bafo à
voragem, pleno-
dito, pensar o verso
e a letra – branco –,
leite guardado.
       

sexta-feira, julho 01, 2011

canto / ato

i

paço e forro – colorem-te
terras, vau de último retorno.
ao miasma, conduz-me palavra
de sorte e parte, ante
o curtume, de sílaba. 

ii

fogo e litígios ao ponto conforme –
nome demora, pelugem sob
enxame, ao que confias, teus
atos, sob letra e fagulha,
despindo-se, de som.

iii

um só lamento, sombra e deicídio –
ao passo do justo – juízo deixado –
fuças o início, entrelaçado traço,
ao que cais, entre escudo e morada,
de mesmo, em verso.

iv

língua álacre: o pesadelo –
feres o rochedo, pária,
lavrando-te em figura, coses,
lacerando a porta, o fecho,
avanças sobre a cinza.

v

cavilhas a folha, o feno,
enquanto há repouso –
da mão, fase a foz,
lume de servos, o nome –
reviras o alarde, rangendo.
                 

segunda-feira, junho 27, 2011

lira aos 7 anos

para que tú me oigas
mis palavras
se adelgazan a veces
como las huellas de las gaivotas en las playas.

pablo neruda


da língua em que te surge,
isolas loas e sóis, esse riso.
do figo, o pasto em onda,
beijas o vento, enquanto
plena, planas à pele, em
que tudo flore: outeiro
e tigres; em si, engaste.

um mar dista, freme a
fome – espéculo de dia –
o só sol, ocupas o sonho.
às vezes todas, falanges,
teus eternos olhos, dizes,
fugindo, de um mesmo
olor, de regresso, lar

meia lua ou lírio, o tempo.
percorres o espesso, foz
de voz, ainda mais,
à frente, fantasmas de
ocre – feixes de pequi
e folha, brotando – eis
os passos que, enfim,                   espero.
              

dentro de nossos 12 anos, 7 devem ser agora celebrados, escrevo-te essa senha
a fabricia, claro.

quinta-feira, maio 05, 2011

un tout petit cri d’amour

à celle dans mes rêves et mes jours,
mais encore là, lointain.


lorsque le poème démarre,
aux yeux, le sourire et l'effroi:
l’un, cette temps, ce qui
rêve, les jouets et les
fleurs tous.
mais oui, aux yeux,
je puis voir des cristaux
le sang lointain, restent tes
doigts. quoi qu'il en soit,
dit-moi
à main, tourné,
de la joie, cet après-midi, dit
désormais, que la vie.
alors, ta musique, ce qui
est égal à moi dans l'ombre,
en branche, toujours
fragile,
dont l’on voile, entre le fleuve
et le bassin.

                     

quinta-feira, abril 28, 2011

canto de consolo e retorno

para a fabricia, que está longe, e perto


véu e voz, a tua –
brisa e falha – em
contorno; fazes a
fonte, o retorno
em que me habitas.

asas, canto gris, teu
rosto, retorno e re
talho – só, às mãos
tuas lançadas – terno
de estar-se, vindo-te:

a só boca estanque,
aguardando, ao
que devo guardar.
dia e consolas, fuso
deslocado, ante a

mim, o só presente,
em teu esboço, caderno
e mármore, de ramo frágil
e língua cega, antes
de tua única madrugada.
              

terça-feira, abril 26, 2011

na zunái

revista ZUNÁI
publicou uma coletânea de poemas meus...

quem, por aqui, por lá...

http://www.revistazunai.com/poemas/piero_eyben.htm



e, para além, umas traduções de paul celan, auch:

http://www.revistazunai.com/traducoes/paul_celan1.htm

              

terça-feira, abril 12, 2011

argos

       
em teus olhos, vacilas
opaca morada e demora –
assim vais, desvaneces; em
plumas – pavos – de espáduas,
arestas, teu corpo, de óleos.

contas a feição e uma só parte,
parente e atos – manivelas sob
io, aguilhão de tiranos, mais
acima – através, num só foco,
do corpo sem órgãos.

ainda, uma pele – lançando-se –
dilacera o membro premente;
fraturas, a ti mesma, o ânimo – do destino.
              



 in scriptum
Ἄργος Πανόπτης

segunda-feira, março 21, 2011

“ ἦ κάρτα μάντις οὑξ ὀνειράτων φόβος ” **




leda sorte, guardas tua pítia –
a fórmula, a nesga,
eis que sobreposta a morada.

baldio nascimento, o converges
em mais calma e vinda –
soletra o cálculo, mor.

soas o depósito, alfanje
e pedaços – a carne toda –
investem o pálio.

assim, o ponteiro gris,
amargo e tênue,
molda-se a tua serpe –

aspiras, em côncava mão e
tripé – canto de canto – trinando,
ainda o calor da lei, efusa.
           
** "o horror advindo de sonhos, muito adivinho."
(ésquilo, coéforas, v. 930)
(transelenizado por mim)

domingo, março 20, 2011

scenopoietes dentirostris

       
dada à terra, os dentes
de alas e sopro, sobre-
põe-te, o corpo –
marca do leve: bruta.
um só, sobre galho,
falas o
noturno, o mimo
todo, de água, respingo –
sentes, à cor, nácar e
âmbar, ipê e jaspe –
enquanto cantas,
o calo, que é plano,
casa.
       

domingo, fevereiro 27, 2011

nênia para benedito nunes

“os homens não começam a filosofar senão quando deles se apossa o thaumazein, incomum estranhamento admirativo do mundo e das coisas, reconhecido pela tradição platônico-aristotélica. condicionada afetivamente, e por esse motivo paixão do pensamento, a filosofia será também, na medida em que tenta compreender o irracional, pensamento da paixão.”
benedito nunes


há tempo de crivo e cravo:
o olho do homem, sobre as
barbas do homem. eis o drama,
corrói de dor e falanges a
fala, lóxias e clara, frente
e freme – de a escrita fazer-
se lança e ponta ao dorso
centeia.

à máquina todo pode,
sorrir-se entre a desde
razão de lançar-se, aí
teu ser, teu ensino –
constrange-nos a obscura,
a sã e douta imagem,
angústia e mãos, tecendo
lentas.

eis o papel do tempo,
as marcas devastadas,
de sol a solo, areia e
vento – passagens (o
weg o vago) – da natureza
voltar-se ao repouso, em
ti agora – tu fazes, e flui
em corpo.

e pólemos, calando-se,
dá-se à testemunha da
escrita, de vontade, assim,
pathos.            
  aquele que ensina pensar, passando-se ao poético.