terça-feira, outubro 25, 2011


“Augen hat des Menschen Bild”
(Friedrich Hölderlin)



habitas corpo e espasmo,
como se, sereno-cerúleo,
outono antes de inverno,
folha aquém do sol, tua a
face – mil línguas, partidas –
apenas uma porta, à entrada
do abismo, e os olhos fixos
no decerto, caracol de monte,
arvorada – monturo de flama –
se muda, muros de jasmins.
habitas, os dedos altos,
tendendo o frontispício
de uma vala: penumbra o
nome e a besta que ainda
ornamenta o talvez do verso –
língua mouca, asas tênues,
e teu verbo ligeiro-breve,
que violas o mar-alto, o ascor
que é teu feixe, lenço esquecido
esta flecha, ruiva, torpe.
habitas o seixo, à terra.
e prenhe, salpicas o viveiro
de larvas, o jardim de sopro –
profuso-pilar, mácula de
noite e riso – fogo-maçã da
linguagem, essa do corpo
nu-folheado de húmus, em
que habitas e deve retornar
incenso – no sem som do dia –
à álacre-mirra do quando, de
dar-se ao antes inocente.
habitas e teu cenho liso
espanca a sombra e o sol.
                      
(foto de Minor White, Barn and Clouds, 1955)

Um comentário:

O Poeta Devaneio disse...

Pronfundamente delirante.