domingo, julho 30, 2006
suprir a matéria
metafísica da forma: kasimir
malévich, geômetra do céu em
branco.
de alguns retângulos: vermelho,
amarelo, preto, azul, respectiva-
mente.
um avião se faz planar, sobre a
tela - on canvas - tudo como que
de branco no brando.
entre a matéria de tinta e a matéria
pintada, uma outra coisa que costuma
chamar arte.
a cercania de uma festividade
como que das distâncias
apartado, os olhos rarejam
algumas imagens do final.
assim pára, toma da água e
do vinho (2 partes por uma):
o reflexo de uma alegria de fum-
aça - nas assaduras do tempo -
e o júbilo de - tendo escrito na
parede: porque no sé res.
comíamos, no entr'espaço de
duas linhas, alguns petiscos de
alguma conversa: risos, só risos
à toa.
saldo: rubros, sem sapatos, alguns
caídos, dança, fumaça ao léu de
nossas (in)consciências consistentes.
saldo: menos bergman, mais nietzsche,
ainda um mallarmaico brinde -
solitude, recife, estrela.
um último traçado, em escrita ou
melodia - pouco importa - de feliz
morada, abraços, como devem ser
aqueles que bebem vida - como pound -
mesmo de quem se retira.
apartado, os olhos rarejam
algumas imagens do final.
assim pára, toma da água e
do vinho (2 partes por uma):
o reflexo de uma alegria de fum-
aça - nas assaduras do tempo -
e o júbilo de - tendo escrito na
parede: porque no sé res.
comíamos, no entr'espaço de
duas linhas, alguns petiscos de
alguma conversa: risos, só risos
à toa.
saldo: rubros, sem sapatos, alguns
caídos, dança, fumaça ao léu de
nossas (in)consciências consistentes.
saldo: menos bergman, mais nietzsche,
ainda um mallarmaico brinde -
solitude, recife, estrela.
um último traçado, em escrita ou
melodia - pouco importa - de feliz
morada, abraços, como devem ser
aqueles que bebem vida - como pound -
mesmo de quem se retira.
quinta-feira, julho 27, 2006
lírica para fabrícia, novamente
conduz-me com a mão
que, pueril, solfeja a mes-
ma nota de morada.
conduz-me com a boca
que, toda nudez, ensina
minha parte em contrário.
conduz-me com a vulva
que, toda lábio, convulsa
meu mais confuso gesto.
conduz-me com a testa
que, franzida, perplexa
o outro que sou, em ti.
pós-olor
enuncio:
renúncia do nume -
palavra inscrita -
que deplora o
canto.
renuncio:
enunciado de carne -
palavra estrita -
que, de fora,
cala.
anuncio:
prenúncio dediróseo -
palavra constrita -
que demora,
solstício.
colore todo
um cio - estro -
de música e motivo
escrita que degola
o canto, a fala, o sol.
arnaut espanta o tédio
er vei vermeills, vertz, blaus, blancs, gruocs
vergiers, plans, plais, tertres e vaus,
e•il votz dels auzels sona e tint
ab doutz acort maitin e tart.
so•m met en cor qu’ieu colore mon chan
d’un’aital flor don lo fruitz sia amors,
e jois lo grans, e l’olors d’enoi gandres.
vinte pinturas para construir um poeta
01. p. cézanne, chateau noir.
02. m. escher, o limite do círculo.
03. p. klee, peixe dourado.
04. g. klimt, die jungfrau.
05. m. caravaggio, a crucificação de são pedro.
06. l. da vinci, virgem nas pedras.
07. d. velasquéz, las meninas.
08. rembradt, aristóteles contempla busto de homero.
09. j. miró, detrás do espelho.
10. p. picasso, la tauromaquía.
11. c. monet, ponte japonesa.
12. m. duchamp, nu descendo a escada.
13. v. van gogh, irises.
14. k. malevich, suprematismo: avião voando.
15. j. vermeer, a arte da pintura.
16. f. bacon, orestia.
17. piero della francesca, madonna del parto.
18. p. uccello, a caçada.
19. f. kahlo, duas fridas.
20. j. van eyck, o casamento de arnolfi.
02. m. escher, o limite do círculo.
03. p. klee, peixe dourado.
04. g. klimt, die jungfrau.
05. m. caravaggio, a crucificação de são pedro.
06. l. da vinci, virgem nas pedras.
07. d. velasquéz, las meninas.
08. rembradt, aristóteles contempla busto de homero.
09. j. miró, detrás do espelho.
10. p. picasso, la tauromaquía.
11. c. monet, ponte japonesa.
12. m. duchamp, nu descendo a escada.
13. v. van gogh, irises.
14. k. malevich, suprematismo: avião voando.
15. j. vermeer, a arte da pintura.
16. f. bacon, orestia.
17. piero della francesca, madonna del parto.
18. p. uccello, a caçada.
19. f. kahlo, duas fridas.
20. j. van eyck, o casamento de arnolfi.
bacas
com um traço flavo
de lauri-fel, rubens
reveste-se de banha
vinho mijo bode nó.
com a luz fulva, o
bicho - cão-tigre -
esbraveja sob pé
vinho mijo bode nó.
o sátiro, logo atrás,
rubens o esconde,
com a cona da baca e
o cacete de baco.
as crianças, ao lado,
bebem, mijam, bodejam
nudus nodus sobre-
vêem o êxtase, porvir.
catuliana
clódia, cláudio claudicante
colore a casa de catulo, feito
livro impresso emoldurado
e então batem-se tímpanos -
bacas gélidas - ao êneo címbalo;
tudo flauta - todo bartók.
das inúmeras amantes ou inú-
meros, catulo - a flauuis dedicou -
deduz-se então, mea lesbia, o as-
sim fervente carvalho fosse apenas
vindo do seu nome: fulvo, louro;
como citeréia. lacera peitos desnudos.
envoi
pousa, som,
como pousam
os amores de
catulo, sobre
o colo caiado -
em disfarce.
colore a casa de catulo, feito
livro impresso emoldurado
e então batem-se tímpanos -
bacas gélidas - ao êneo címbalo;
tudo flauta - todo bartók.
das inúmeras amantes ou inú-
meros, catulo - a flauuis dedicou -
deduz-se então, mea lesbia, o as-
sim fervente carvalho fosse apenas
vindo do seu nome: fulvo, louro;
como citeréia. lacera peitos desnudos.
envoi
pousa, som,
como pousam
os amores de
catulo, sobre
o colo caiado -
em disfarce.
enfo(r)cando
villon:
nous préservant de l'infernale fouldre
nous sommes mors, ame ne nous harie
em que se ouve um haver de ave, infer-
no de morte, papelão e banjo. fulmina.
não falte o dia em que o olvido encerre
a memória do grão. morre, o que é doce,
ca aqui non sui son maistre, de mês, o que
qui e 'ora sobr'vor est'olor pur'fror. dança.
junto ao junco da junça - caiana da brava:
aquele que esbraveja à barbárie, espumosa;
a-que-incha: aqui não tem cachaçada é
hommes, icy n'a point de mocquerie.
cinco ou seis dependurados ao léu, luys
sors, como outrora em tchékhov, um
dos ivans. maciça a cana que de dentro
o endro sobrepuxava, mais combien d'
oiseaulx, tudo ameralim, verdim. abs-
sorve a planta, plaina o plateau.
baixe os olhos, globos d'esmerarda:
esmero smart como o chico, o velho.
baixe os olhos, feitos de prece:
apressados três martelos que sucum-
bem doutro lado, com água no meio,
borboletas - priez dieu - como as virgem.
entre cinco ou seis pendus há um respiro -
lá o pesar não acha permanência (guido) -
não convém moça direita olhar cinco hom-
ens nus-vestidos: ventadour: ao ver a ave le-
ve mover. desprezo quem esconde a canção
num tabuleiro, como quem não joga dados,
como que não come carne, como corpo mort-
o cai. freme, treme, françois.
nous préservant de l'infernale fouldre
nous sommes mors, ame ne nous harie
em que se ouve um haver de ave, infer-
no de morte, papelão e banjo. fulmina.
não falte o dia em que o olvido encerre
a memória do grão. morre, o que é doce,
ca aqui non sui son maistre, de mês, o que
qui e 'ora sobr'vor est'olor pur'fror. dança.
junto ao junco da junça - caiana da brava:
aquele que esbraveja à barbárie, espumosa;
a-que-incha: aqui não tem cachaçada é
hommes, icy n'a point de mocquerie.
cinco ou seis dependurados ao léu, luys
sors, como outrora em tchékhov, um
dos ivans. maciça a cana que de dentro
o endro sobrepuxava, mais combien d'
oiseaulx, tudo ameralim, verdim. abs-
sorve a planta, plaina o plateau.
baixe os olhos, globos d'esmerarda:
esmero smart como o chico, o velho.
baixe os olhos, feitos de prece:
apressados três martelos que sucum-
bem doutro lado, com água no meio,
borboletas - priez dieu - como as virgem.
entre cinco ou seis pendus há um respiro -
lá o pesar não acha permanência (guido) -
não convém moça direita olhar cinco hom-
ens nus-vestidos: ventadour: ao ver a ave le-
ve mover. desprezo quem esconde a canção
num tabuleiro, como quem não joga dados,
como que não come carne, como corpo mort-
o cai. freme, treme, françois.
segunda-feira, julho 24, 2006
série borgianas (1)
édipo e o enigma
quadrúpede na aurora, alto no dia
e com três pés errando pelo vão
âmbito do entardecer, assim via
a eterna esfinge ao inconstante irmão,
o homem, e à tarde um homem vaticina
decifrando aterrado, no cristal
da monstruosa imagem, o fatal
reflexo de seu destino e ruína.
somos édipo e, de modo eternal,
somos, no vasto e tríplice animal,
o que seremos e tenhamos sido.
aniquilar-nos-ia ver a ingente
forma de nosso ser; piedosamente
deus nos depara sucessão e olvido.
quadrúpede na aurora, alto no dia
e com três pés errando pelo vão
âmbito do entardecer, assim via
a eterna esfinge ao inconstante irmão,
o homem, e à tarde um homem vaticina
decifrando aterrado, no cristal
da monstruosa imagem, o fatal
reflexo de seu destino e ruína.
somos édipo e, de modo eternal,
somos, no vasto e tríplice animal,
o que seremos e tenhamos sido.
aniquilar-nos-ia ver a ingente
forma de nosso ser; piedosamente
deus nos depara sucessão e olvido.
domingo, julho 23, 2006
carmina
tinge-se de vermelho,
túrgido.
tinge-se - cor de sol -
mélico.
tinge-se, magenta,
contrário.
tinge-se de poema,
aurora.
tinge-se toda de abrir,
a ti.
túrgido.
tinge-se - cor de sol -
mélico.
tinge-se, magenta,
contrário.
tinge-se de poema,
aurora.
tinge-se toda de abrir,
a ti.
poema sapiencial
o nome - saber
de outros tempos -
compõe-se de ara-
bescos e benjoim,
tudo névoa de
t a p e t e.
harmônica: sabe-faz
o relógio, mola de
corda do tempo, com-
põe a coroa de negrume
em apenas cimento
- estro/cio -
regina madre: como
outrora este saber -
dante o assina com
um nome de canto -
consolava os ébrios
cavaleiros: donna
mhia para sempi-
terna, mhia senhal,
consola ca meu peito
a r d e desértico.
ez novamente
na cadeira,
com suas rugas,
o velho poeta -
não sábio, não poeta,
não santo: desconfio -
pousa em ideogramas,
pisan cantos pisando
a atmosfera nubilada
polimétis de moderna-
idade.
and then went down to the ship,
e'tão vão pra nau
ez, sobre a cadeira,
não sonha madelaines,
ou pedaços crocrantes
de irrealidade, mas
i punti luminosi.
sábado, julho 22, 2006
pomar da língua
a mátria iniciou-se:
século xii(i), taveirós:
No mundo non me sei parelha,
mentre me fôr como me vai,
ca já moiro por vós – e ai!
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando voz eu vi en saia!
Mau dia me levantei,
que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, dês aquel dia’, ai!
me foi a mi mui mal,
e vós, filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d’haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d’alfaia
nunca de vós houve nen hei
valia d’ua correa.
guarda pois a letra trans-
formadas em semelhança
guarvaia = turquesa nobre
à pobre ribeira, mhia senhal,
poesia.
século xii(i), taveirós:
No mundo non me sei parelha,
mentre me fôr como me vai,
ca já moiro por vós – e ai!
mia senhor branca e vermelha,
queredes que vos retraia
quando voz eu vi en saia!
Mau dia me levantei,
que vos enton non vi fea!
E, mia senhor, dês aquel dia’, ai!
me foi a mi mui mal,
e vós, filha de don Paai
Moniz, e ben vos semelha
d’haver eu por vós guarvaia,
pois eu, mia senhor, d’alfaia
nunca de vós houve nen hei
valia d’ua correa.
guarda pois a letra trans-
formadas em semelhança
guarvaia = turquesa nobre
à pobre ribeira, mhia senhal,
poesia.
entr'acte
dante: uscimmo a riveder le stelle
puro e disposto a salire alle stelle
l'amor che move il sole e l'altre stelle.
rever estrelas - entremeados -
iessiênin no hotel inglaterra:
nada novo nesta vida; rever,
sonhar estrelas: inferno, purga-
torio, paradiso. soluçam sílabas
limbas: homero, lucano, virgílio.
o velho sábio cantaria outra só
estrela, movência.
sexta-feira, julho 21, 2006
sképsis
hiperbólica in-
genu-
idade do ho-
mem: colocar
a si mesmo
como
sentido e medida
de valor das
coisas.
am i blue?
nihil est
nihil est
est nihil
genu-
idade do ho-
mem: colocar
a si mesmo
como
sentido e medida
de valor das
coisas.
am i blue?
nihil est
nihil est
est nihil
persona palavra
nietzsche: "cada palavra
uma máscara", brônzea,
a mortuária do rei, olho-
de-cão, agamêmnon, a
ira - ménis - pode a
musa celebrar, da dor-
do-povo, cada palavra
esconde o escudo pessoal
persona do herói, discurso,
pharmákon: cego que vê.
cada máscara uma palavra:
mote a mote, a presença
silenciosa dos volteios dos
retornos. vontade, só-
sobram palavras, mots,
words, words, words =
hamlet em sua loucura
de máscara elisabetana.
§ cada uma máscara, palavra
devolvo-me ao ventre, vento
de poros em que naufrago,
vendo-me como cada uma
palavra, máscara. tudo bronze.
uma máscara", brônzea,
a mortuária do rei, olho-
de-cão, agamêmnon, a
ira - ménis - pode a
musa celebrar, da dor-
do-povo, cada palavra
esconde o escudo pessoal
persona do herói, discurso,
pharmákon: cego que vê.
cada máscara uma palavra:
mote a mote, a presença
silenciosa dos volteios dos
retornos. vontade, só-
sobram palavras, mots,
words, words, words =
hamlet em sua loucura
de máscara elisabetana.
§ cada uma máscara, palavra
devolvo-me ao ventre, vento
de poros em que naufrago,
vendo-me como cada uma
palavra, máscara. tudo bronze.
acalanto
dorme, dorme
arazona a noite
como um pássaro
funesto.
dorme, dorme
àquele que ainda
mais, ainda,
não há.
dorme, dorme
fez-se silêncio -
através da porta -
como salto.
dorme, dorme
leito perfumado
de madrepérola,
velas e coerção.
dorme, dorme
sem mais poder
dorme, dorme
aquele aquela.
arazona a noite
como um pássaro
funesto.
dorme, dorme
àquele que ainda
mais, ainda,
não há.
dorme, dorme
fez-se silêncio -
através da porta -
como salto.
dorme, dorme
leito perfumado
de madrepérola,
velas e coerção.
dorme, dorme
sem mais poder
dorme, dorme
aquele aquela.
aristóteles e homero
rembrandt centelha
um punhado de lume
na cegueira do filósofo
e na clarivisão do poeta
rembrandt tudo vê sem
ter-lhe luz, mas apenas
negro, gris e ouro:
perfurados olhos.
rembrandt pousa a mão
aristotélica do não-contra-
dito, pousa uma descrição
em mudez, em melós, olh-
ando o infinito do escuro,
no lauri-claro da razão.
impotência
mesmo que tenha
nietzsche refletido
cercanias da vontade
- movência do homem
potência do ente, eter-
na volta torna refaz -
sinto a impotência
da palavra, do trab-
alho, do respiro:
decepção, missa,
mesmo que tenha
refletido.
nietzsche refletido
cercanias da vontade
- movência do homem
potência do ente, eter-
na volta torna refaz -
sinto a impotência
da palavra, do trab-
alho, do respiro:
decepção, missa,
mesmo que tenha
refletido.
palavras cantadas
de zeus e mnemosyne:
calliope, clio, euterpe
terpsichore, erato, melpomene
thalia, polyhymnia, urania
música e poesia lírica - dança do coral e canção
poesia erótica e mímica - tragédia
comédia - hino sagrado
astronomia
mesclam-se todas
em um lance ao acaso
az-zahr: flor sem buquê,
dado árabe lançado.
beatrice - laura - inês -
nise - marília - dulcineia -
ofélia - andrômaca - moly -
emma - capitu - ângela -
fabricia.
ao acaso: representam -
assentadas como madonnas -
o amaro amor.
devaneio
“não é nada que se diga com um nome”
Herberto Hélder
nada se
diz
com
nome:
tudo nome
nada é não
que - nisso -
ça - là où -
à ce que.
cogito
ergo
sum.
Herberto Hélder
nada se
diz
com
nome:
tudo nome
nada é não
que - nisso -
ça - là où -
à ce que.
cogito
ergo
sum.
ontologia - poemas para acabar com tudo
não se diferem
antologia e onto-
logia, apenas há,
nestes, a descren-
ça: o que não pode ser
pensado.
segue uma ontologia:
CORONA
Da mão o outono me come sua folha: somos amigos.
Descascamos o tempo das nozes e o ensinamos a andar:
o tempo retorna à casca.
No espelho é domingo,
no sonho se dorme,
a boca não mente.
Meu olho desce ao sexo da amada:
olhamo-nos,
dizemo-nos o obscuro,
amamo-nos como ópio e memória,
dormimos como vinho nas conchas,
como o mar no raio sangrento da lua.
Entrelaçados à janela, olham-nos da rua:
já é tempo de saber!
Tempo da pedra dispor-se a florescer,
de um coração palpitar pelo inquieto,
É tempo do tempo ser. É tempo.
Paul Celan
E ASSIM EM NÍNIVE
"Sim! Sou um poeta e sobre minha tumba
Donzelas hão de espalhar pétalas de rosas
E os homens, mirto, antes que a noite
Degole o dia com a espada escura.
"Veja! não cabe a mim
Nem a ti objetar,
Pois o costume é antigo
E aqui em Nínive já observei
Mais de um cantor passar e ir habitar
O horto sombrio onde ninguém perturba
Seu sono ou canto.
E mais de um cantou suas canções
Com mais arte e mais alma do que eu;
E mais de um agora sobrepassa
Com seu laurel de flores
Minha beleza combalida pelas ondas,
Mas eu sou poeta e sobre minha tumba
Todos os homens hão de espalhar pétalas de rosas
Antes que a noite mate a luz
Com sua espada azul.
"Não é, Ruaana, que eu soe mais alto
Ou mais doce que os outros. É que eu
Sou um Poeta, e bebo vida
Como os homens menores bebem vinho."
Ezra Pound
DE PROFUNDIS
Há um restolhal, onde cai uma chuva negra.
Há uma árvore marrom;ali solitária.
Há um vento sibilante, que rodeia cabanas vazias.
Como é triste o entardecer
Passando pela aldeia
A terra órfã recolhe ainda raras espigas.
Seus olhos arregalam-se redondos e dourados no crepúsculo,
E seu colo espera o noivo divino.
Na volta
Os pastores acharam o doce corpo
Apodrecido no espinheiro.
Sou uma sombra distante de lugarejos escuros.
O silêncio de Deus
Bebi na fonte do bosque.
Na minha testa pisa metal frio
Aranhas procuram meu coração.
Há uma luz, que se apaga na minha boca.
À noite encontrei-me num pântano,
Pleno de lixo e pó das estrelas.
Na avelãzeira
Soaram de novo anjos cristalinos.
Georg Trakl
DESTINO DO POETA
Palavras? Sim. De ar
e perdidas no ar.
Deixa que eu me perca entre palavras,
deixa que eu seja o ar entre esses lábios,
um sopro erramundo sem contornos,
breve aroma que no ar se desvanece.
Também a luz em si mesma se perde.
Octavio Paz
Abro as veias: irreprimível,
Irrecuperável, a vida vaza.
Ponham embaixo vasos e vasilhas!
Todas as vasilhas serão rasas,
Parcos os vasos.
Pelas bordas - à margem -
Para os veios negros da terra vazia,
Nutriz da vida, irrecuperável,
Irreprimível, vaza a poesia.
Marina Tsvetaeva
antologia e onto-
logia, apenas há,
nestes, a descren-
ça: o que não pode ser
pensado.
segue uma ontologia:
CORONA
Da mão o outono me come sua folha: somos amigos.
Descascamos o tempo das nozes e o ensinamos a andar:
o tempo retorna à casca.
No espelho é domingo,
no sonho se dorme,
a boca não mente.
Meu olho desce ao sexo da amada:
olhamo-nos,
dizemo-nos o obscuro,
amamo-nos como ópio e memória,
dormimos como vinho nas conchas,
como o mar no raio sangrento da lua.
Entrelaçados à janela, olham-nos da rua:
já é tempo de saber!
Tempo da pedra dispor-se a florescer,
de um coração palpitar pelo inquieto,
É tempo do tempo ser. É tempo.
Paul Celan
E ASSIM EM NÍNIVE
"Sim! Sou um poeta e sobre minha tumba
Donzelas hão de espalhar pétalas de rosas
E os homens, mirto, antes que a noite
Degole o dia com a espada escura.
"Veja! não cabe a mim
Nem a ti objetar,
Pois o costume é antigo
E aqui em Nínive já observei
Mais de um cantor passar e ir habitar
O horto sombrio onde ninguém perturba
Seu sono ou canto.
E mais de um cantou suas canções
Com mais arte e mais alma do que eu;
E mais de um agora sobrepassa
Com seu laurel de flores
Minha beleza combalida pelas ondas,
Mas eu sou poeta e sobre minha tumba
Todos os homens hão de espalhar pétalas de rosas
Antes que a noite mate a luz
Com sua espada azul.
"Não é, Ruaana, que eu soe mais alto
Ou mais doce que os outros. É que eu
Sou um Poeta, e bebo vida
Como os homens menores bebem vinho."
Ezra Pound
DE PROFUNDIS
Há um restolhal, onde cai uma chuva negra.
Há uma árvore marrom;ali solitária.
Há um vento sibilante, que rodeia cabanas vazias.
Como é triste o entardecer
Passando pela aldeia
A terra órfã recolhe ainda raras espigas.
Seus olhos arregalam-se redondos e dourados no crepúsculo,
E seu colo espera o noivo divino.
Na volta
Os pastores acharam o doce corpo
Apodrecido no espinheiro.
Sou uma sombra distante de lugarejos escuros.
O silêncio de Deus
Bebi na fonte do bosque.
Na minha testa pisa metal frio
Aranhas procuram meu coração.
Há uma luz, que se apaga na minha boca.
À noite encontrei-me num pântano,
Pleno de lixo e pó das estrelas.
Na avelãzeira
Soaram de novo anjos cristalinos.
Georg Trakl
DESTINO DO POETA
Palavras? Sim. De ar
e perdidas no ar.
Deixa que eu me perca entre palavras,
deixa que eu seja o ar entre esses lábios,
um sopro erramundo sem contornos,
breve aroma que no ar se desvanece.
Também a luz em si mesma se perde.
Octavio Paz
Abro as veias: irreprimível,
Irrecuperável, a vida vaza.
Ponham embaixo vasos e vasilhas!
Todas as vasilhas serão rasas,
Parcos os vasos.
Pelas bordas - à margem -
Para os veios negros da terra vazia,
Nutriz da vida, irrecuperável,
Irreprimível, vaza a poesia.
Marina Tsvetaeva
quinta-feira, julho 20, 2006
hermes
hermes esculpido
- fídias resolve -
em que a tradição
cristiana - sobrevôo
de santas e triangul-
ação.
hermes: intermédio
de deuses e andros.
anér, édipo - a lou-
cura do nome, do
olho cego sem-
tome.
hermes, castrado.
restam apenas
vasos, nada
mais - xô
corvo.
- fídias resolve -
em que a tradição
cristiana - sobrevôo
de santas e triangul-
ação.
hermes: intermédio
de deuses e andros.
anér, édipo - a lou-
cura do nome, do
olho cego sem-
tome.
hermes, castrado.
restam apenas
vasos, nada
mais - xô
corvo.
quarta-feira, julho 19, 2006
arseni tarkovski, traduzido do inglês
sonhei este sonho e ainda o sonho
e o sonharei novamente outra vez.
tudo se repete e tudo reencarnaria,
a meus sonhos seriam seus sonhos.
há, para uma parte de nós, para uma parte do mundo.
onda após onda quebra na orla:
há uma estrela na onda, e um homem, e um pássaro,
realmente e sonhos e morte – onda pós onda.
datas são irrelevantes. fui, sou, serei.
vida é um milagre de milagres, e me ajoelho
sozinho ante o milagre como um órfão,
sozinho nos espelhos, circundado pelos reflexos,
mares e cidades, brilhando luminosamente entre a fumaça.
uma mãe chora e segura seu bebê em seus joelhos.
arseny tarkovsky
e o sonharei novamente outra vez.
tudo se repete e tudo reencarnaria,
a meus sonhos seriam seus sonhos.
há, para uma parte de nós, para uma parte do mundo.
onda após onda quebra na orla:
há uma estrela na onda, e um homem, e um pássaro,
realmente e sonhos e morte – onda pós onda.
datas são irrelevantes. fui, sou, serei.
vida é um milagre de milagres, e me ajoelho
sozinho ante o milagre como um órfão,
sozinho nos espelhos, circundado pelos reflexos,
mares e cidades, brilhando luminosamente entre a fumaça.
uma mãe chora e segura seu bebê em seus joelhos.
arseny tarkovsky
em Santa Catherina in Bagno Vignoni
a vela sempi-
acesa.
domenico,
ode à alegria,
em chamas
entre estátuas.
gortchakov não
traduz -
induz a quebra
fronteiriça
entre seus prazeres -
Pavel Sosnovsky -
e a poça d'água
que reflete o
coellum.
acesa.
domenico,
ode à alegria,
em chamas
entre estátuas.
gortchakov não
traduz -
induz a quebra
fronteiriça
entre seus prazeres -
Pavel Sosnovsky -
e a poça d'água
que reflete o
coellum.
nostalgia e memória
andrei caminha
- toscania -
eugenia e o capelão:
piero della francesca:
madonna dos nascimentos
pele de parede
- rugas -
decai o véu.
para mim, já basta.
- toscania -
eugenia e o capelão:
piero della francesca:
madonna dos nascimentos
pele de parede
- rugas -
decai o véu.
para mim, já basta.
sophia (1)
com seu gesto,
de pêlo hábil,
ela salta sobre
os livros, libert-
ando a noção
de espaço.
o móbile, const-
ante, ainda a sobre-
voa, mas, quem sa-
be, pupilas variadas,
vai tombar.
de pêlo hábil,
ela salta sobre
os livros, libert-
ando a noção
de espaço.
o móbile, const-
ante, ainda a sobre-
voa, mas, quem sa-
be, pupilas variadas,
vai tombar.
memória (1)
desfaz-se a memória
de novo - retorno:
beija-flor no dedo
de madeira e tinta
ébano:
o pássaro hors de
todo
buquê: vino rojo.
ofício de poeta
olho como um
olho melan-
cólico, mas
ainda - um
corpo ao chão -
atiro másc'ras
álacres de sor-
ôco.
queria lamber,
com os olhos,
o soluço das an-
águas - como que
vendo ossanha
assanhando as
pernas de vento
e ondeado.
caminho na tér-
mica banheira,
vela acesa, apaga:
qual velho dome-
nico salteava a
esguia eugênia.
apenas um.
(depois de nostalgia)
vinte filmes para construir um poeta
01. tarkovski, "nostalgia"
02. tarkovski, "o sacrifício"
03. herzog, "o enigma de kaspar hauser"
04. fellini, "8 e meio"
05. fellini, "julieta dos espíritos"
06. pasolini, "teorema"
07. bergman, "persona"
08. bergman, "gritos e sussurros"
09. bergman, "a trilogia do silêncio"
10. bergman, "a fonte da donzela"
11. buñuel, "o anjo exterminador"
12. buñuel, "um cão andaluz"
13. clair, "entr'acte"
14. cocteau, "o sangue de um poeta"
15. kurosawa, "sonhos"
16. rocha, "deus e o diabo na terra do sol"
17. bertoluci, "assédio"
18. godard, "o desprezo"
19. resnais, "hiroshima mon amour"
20. wenders, "asas do desejo"
02. tarkovski, "o sacrifício"
03. herzog, "o enigma de kaspar hauser"
04. fellini, "8 e meio"
05. fellini, "julieta dos espíritos"
06. pasolini, "teorema"
07. bergman, "persona"
08. bergman, "gritos e sussurros"
09. bergman, "a trilogia do silêncio"
10. bergman, "a fonte da donzela"
11. buñuel, "o anjo exterminador"
12. buñuel, "um cão andaluz"
13. clair, "entr'acte"
14. cocteau, "o sangue de um poeta"
15. kurosawa, "sonhos"
16. rocha, "deus e o diabo na terra do sol"
17. bertoluci, "assédio"
18. godard, "o desprezo"
19. resnais, "hiroshima mon amour"
20. wenders, "asas do desejo"
távola chinesa by pound
The wanderer
Oft ic sceolde ana
uhtna gehwylce
mine ceare cwiþan.
Nis nu cwicra nan
þe ic him modsefan
minne durre
sweotule asecgan.
sempre estava só
em falar meu óbice
manhã antes de amanhecer.
agora nada vive
em quem ouse
falar claramente
meus imos pensamentos.
uhtna gehwylce
mine ceare cwiþan.
Nis nu cwicra nan
þe ic him modsefan
minne durre
sweotule asecgan.
sempre estava só
em falar meu óbice
manhã antes de amanhecer.
agora nada vive
em quem ouse
falar claramente
meus imos pensamentos.
terça-feira, julho 18, 2006
vinte músicas para construir um poeta
01. bach, "arte da fuga"
02. bach, "sonatas para violino"
03. boulez, "pli selon pli"
04. schoenberg, "verklarte nacht"
05. vivaldi, "l'estro armonico"
06. chico, "sinhazinha"
07. villa-lobos, "bachianas"
08. beethoven, "quartetos finais"
09. wagner, "tristan und isolde"
10. wagner, "die walküre"
11. troubadours (qualquer)
12. cantigas de santa maria
13. pound, "le testament"
14. debussy, "prélude pour l'après-midi d'un faune"
15. pärt, "fratres"
16. bach, "suites para violoncelo"
17. webern, "op. 31"
18. mozart, "requiem"
19. bartók, "quartetos de cordas"
20. orff, "catuliana" ou bach, "paixão segundo joão"
aidos
segunda-feira, julho 17, 2006
concreta mélica
domingo, julho 16, 2006
ditirambos nietzschianos
wie ich ihn einst sterben sah -,
den Freund, der Blitze und Blicke
göttlich in meine dunkle Jugend warf.
Muthwillig und tief,
in der Schlacht ein Tänzer -,
unter Kriegern der Heiterste,
unter Siegern der Schwerste,
auf seinem Schicksal ein Schicksal stehend,
hart, nachdenklich, vordenklich –:
erzitternd darob, dass er siegte,
jauchzend darüber, dass er sterbend siegte – :
befehlend, indem er starb
- und er befahl, dass man vernichte...
So sterben,
wie ich ihn einst sterben sah:
siegend, vernichtend ...
Friedrich Nietzsche
Friedrich Nietzsche
Vontade Última
Assim morrer,
como um dia o vi morrer,
ao amigo que relâmpagos e relances
divino em mim lançou obscura juventude.
Malcriado e profundo,
na batalha um dançarino;
entre os lutadores o mais risonho,
entre os vencedores o mais vistoso,
erigindo sobre destino um destino,
harto, meditabundo, premeditável –:
estremecendo-se pois, que vencia,
exultante pois, que morrendo vencia –:
ordenando enquanto morria
– e ordenava, que se aniquilasse...
Assim morrer,
Como o vi outrora morrer
vencendo, aniquilando...
piero eyben
reviver vico
renga no canto 117
i lost my center
perco semelhante mente o x.
fighting the world.
luto no mundo, ao mudo.
the dreams clash
colapso de som-nhô.
and are shattered
exaurido estão e é.
- and that I tried to make a paradiso terrestre.
dal centro al cerchio, e sì dal cerchio al centro
movesi l'acqua in un ritondo vaso,
secondo ch'è percosso fuori o dentro:
perco semelhante mente o x.
fighting the world.
luto no mundo, ao mudo.
the dreams clash
colapso de som-nhô.
and are shattered
exaurido estão e é.
- and that I tried to make a paradiso terrestre.
dal centro al cerchio, e sì dal cerchio al centro
movesi l'acqua in un ritondo vaso,
secondo ch'è percosso fuori o dentro:
ez pound
afora-ismos
Negar o mérito, mas fazer o que está por cima de todo aplauso, incluído por cima de toda compreensão.
Todos os ideais são perigosos porque rebaixam, estigmatizam o real, todos são venenos, mas imprescindíveis como remédio provisório
La bêtise n'est pas mon fort
PODERÍAMOS NIETZCHEANA OU
TESTIANAMENTE CONDUZIR-NOS
AO (D)EFEITO DA FEIÇÃO - COMO
FAISÕES, DORMIMOS CALADOS COM
OLHOS RAPACES - PELA CARNE DOS
AINDA AQUEUS, AINDA REGIDOS POR
OLHOS-DE-CÃO: JOSEPH K. SE HÁ CUL-
PAI-NOS.
retrospecto
queria tentar um retrospecto:
como fazer com que leiam ho-
mero? em que tudo ali em-si-
cena algo.
queria tentar um retrospecto:
como fazer ler homerós? quer-
o fazer cena como tudo no al-
go, lovely rose.
queria tentar um retrospecto:
como homère possível? repete
o fazer-se na rosa amada de go
ao remar contra.
queria tentar um retrospecto:
como leitura homer? releiam
no busto, apenas tudo expos-
tô, em mármore cego.
queria tentar um retrospecto:
homero! o mar ainda violeta,
rósea dactilo aurora, fecha o
mar, em uma batalha: reading
park - queria que fossemos um
cárcere.
ano grego: fora com sócrates.
sábado, julho 15, 2006
arte em fuga
vinte poemas para construir um poeta
01. mallarmé, "un coup de dés"
02. homero, "ilíada"
03. pound, "the cantos"
04. joão cabral, "o cão sem plumas"
05. arnaut, "l'aura amara"
06. dante, "commedia"
07. "the seafarer"
08. safo, "hino a afrodite"
09. huidobro, "altazor"
10. hopkins, "the wreck of the deutschland"
11. rimbaud, "le bateau ivre"
12. maiakovski, "a sierguéi iessiênin"
13. eliot, "the waste land"
14. villon, "le testament"
15. goethe, "wandrers nachtlied"
16. shakespeare, "monólogo de macbeth"
17. guido, "donna mi priegha"
18. góngora, "mientras por competir con tu cabello"
19. poe, "the raven"
20. ovídio, "as metamorfoses"
02. homero, "ilíada"
03. pound, "the cantos"
04. joão cabral, "o cão sem plumas"
05. arnaut, "l'aura amara"
06. dante, "commedia"
07. "the seafarer"
08. safo, "hino a afrodite"
09. huidobro, "altazor"
10. hopkins, "the wreck of the deutschland"
11. rimbaud, "le bateau ivre"
12. maiakovski, "a sierguéi iessiênin"
13. eliot, "the waste land"
14. villon, "le testament"
15. goethe, "wandrers nachtlied"
16. shakespeare, "monólogo de macbeth"
17. guido, "donna mi priegha"
18. góngora, "mientras por competir con tu cabello"
19. poe, "the raven"
20. ovídio, "as metamorfoses"
réquiem para camões
requiem aeternam
repousa lentamente,
resto de riso e palavra.
repousa eternamente,
recusas d'alvorada.
no rio mekong, aquele
texto poderia ter deixado
a vida da donna - mhia senhal -
mas antes perder um olho
ao peito ilustre: o rei, jovem,
ainda viria a ser um nada-tudo.
vênus perpétua: moçamba, quíloa,
goa, melinde, tormentas, calicute.
torna a lisboa - ulíssona - e o vasco
passa além de belém.
no restelo, hoje habita um padrão:
todo pedra que apenas lembra a
campanha dos amores. hoje, camoens,
passa muito além do pórtico-belém ou
dos jerônimos: rubens chiaroscuro.
repousa, oitava rima, o repouso eterno
de agora - teu manuscrito uma ágora -
em que tuas tágides revistam-se de luso
luto: sem-túmulo, por não poder, pois
imortal é a letra tua do verso teu
que os corações humanos tanto obriga
repousa lentamente,
resto de riso e palavra.
repousa eternamente,
recusas d'alvorada.
no rio mekong, aquele
texto poderia ter deixado
a vida da donna - mhia senhal -
mas antes perder um olho
ao peito ilustre: o rei, jovem,
ainda viria a ser um nada-tudo.
vênus perpétua: moçamba, quíloa,
goa, melinde, tormentas, calicute.
torna a lisboa - ulíssona - e o vasco
passa além de belém.
no restelo, hoje habita um padrão:
todo pedra que apenas lembra a
campanha dos amores. hoje, camoens,
passa muito além do pórtico-belém ou
dos jerônimos: rubens chiaroscuro.
repousa, oitava rima, o repouso eterno
de agora - teu manuscrito uma ágora -
em que tuas tágides revistam-se de luso
luto: sem-túmulo, por não poder, pois
imortal é a letra tua do verso teu
que os corações humanos tanto obriga
vinte teorias para construir um poeta
01. mallarmé, "crise do verso"
02. pound, "the spirit of romance"
03. joão cabral, "poesia e composição"
04. poe, "filosofia da composição"
05. gracián, "agudeza e arte de engenho"
06. aristóteles, "poética"
07. haroldo, "arte no horizonte do provável"
08. valéry, "poesia e pensamento abstrato"
09. spina, "na madrugada das formas poéticas"
10. octavio paz, "el arco y la lira"
11. heidegger, "a caminho da linguagem"
12. derrida, "che cos'è la poesia"
13. meschonic, "pour la poétique"
14. jakobson, "dois aspectos de linguagem e dois tipos de afasia"
15. borges, "esse ofício do verso"
16. bense, "estética abstrata"
17. goethe, "poesia e verdade"
18. eliot, "a música da poesia"
19. poe, "eureka"
20. pound, "abc of reading"
02. pound, "the spirit of romance"
03. joão cabral, "poesia e composição"
04. poe, "filosofia da composição"
05. gracián, "agudeza e arte de engenho"
06. aristóteles, "poética"
07. haroldo, "arte no horizonte do provável"
08. valéry, "poesia e pensamento abstrato"
09. spina, "na madrugada das formas poéticas"
10. octavio paz, "el arco y la lira"
11. heidegger, "a caminho da linguagem"
12. derrida, "che cos'è la poesia"
13. meschonic, "pour la poétique"
14. jakobson, "dois aspectos de linguagem e dois tipos de afasia"
15. borges, "esse ofício do verso"
16. bense, "estética abstrata"
17. goethe, "poesia e verdade"
18. eliot, "a música da poesia"
19. poe, "eureka"
20. pound, "abc of reading"
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