sexta-feira, junho 26, 2009

nênia: this is it


vocês sabem que esse blog não se abre muito à prosa. muito à citação não-modificada. mas hoje haverá uma prosa, copiada e colada. o artigo do caetano sobre a morte de michael jackson. a afeição pela música popular me faz colocar esse texto aqui (e, em duplo sentido, me é caro! e, de fato, faz ver que não concordo mesmo com theodor w. adorno). logo abaixo também insiro uma nênia, essa minha, para o falecimento do pop ou de grande parte dele. seguem os textos:


O anjo e o demônio da indústria cultural
Por Caetano Veloso

A notícia da morte de Michael Jackson foi um grande abalo. Cheguei ao Teatro do Sesi de Porto Alegre e ao ser informado pensei imediatamente em meus filhos Zeca e Tom. Logo Daniel Jobim me veio à mente. Ele é conhecedor e devoto de Michael desde a infância. Moreno, meu filho mais velho, que é amigo de Daniel, também dedicou afeto intenso à figura desse gênio do nosso tempo. Mas são meus filhos menores que hoje se sentem mais atraídos por seu estilo.
Como todo mundo, acompanhei Michael desde que ele era pequeno. Como todo mundo, fiquei siderado pelo cantor e dançarino de "Off the Wall" e "Thriller". Como todo mundo, fiquei entre fascinado, enojado e apreensivo diante das transformações físicas por que ele passou. O que quer que tenha havido entre ele e aqueles meninos cujos pais o processaram, acho-o moralmente superior a esses pais.
Michael é o anjo e o demônio da indústria cultural. A serpente do seu paraíso e seu mártir purificador. Os talentos artísticos extraordinários frequentemente coincidem com vidas torturadas e enigmáticas. Michael era um desses talentos imensos. Dançando "Billie Jean" na festa da Motown ele foi sim tão grande quanto Fred Astaire: comentava o Travolta de Saturday Night Fever e o Bob Fosse do Pequeno Príncipe (este, uma influência fortíssima e evidente, que nunca vi mencionada). Vou entrar agora no palco pensando em Tom, Zeca, Moreno e Daniel - e, com um nó na garganta, no sentido da nossa atividade. Ele a representava em sua totalidade, fulgurantemente, tragicamente, divinamente.

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nênia: this is it

passo à lua, mais leve,
lá onde o nunca cresce,
lá onde a mistura já cai:
estranho odor da infância,
esse, ainda permanente,
de luvas e luzes, da pele
e dor – tida – acossada
e respirando, dança.

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