quarta-feira, junho 24, 2009

elegia (partindo de duíno)

(…) Vor dir
hat ers geliebt, denn, da du ihn trugst schon,
war es im Wasser gelöst, das den Keimendenleicht macht.
(Die Dritte Elegie, Rainer Maria Rilke)
[Antes de ti
ele o amou, pois quando o trazias, estava dissolvido
na água que torna mais leve a semente.]

torce ao vazio calmo
sob as águas, a vista
do castelo, sobre águas,
esse lugar grave, bosque
nacarado de lamento,
em que atravessas o som
duro da hora e do luto –
ferem os passos, a prumo,
do consolo das sementes,
ao caule impassível de flama.

arquejo, a sós, velho nauta,
serena cantata de outros
olhos, cinza ouvindo, às
margens, já nascido e
estampado o selo do canto.

o que à noite ri, brando
pesadelo, de mouriscas
visões, circu-

lares, o rosto álacre, pomo
infindo de vergéis

em rastro, deixado, de tempo

Um comentário:

olimpia disse...

(carta para Piero)
Gesang ist Dasein

E sou eu que tenho de dar a verdadeira explicação das Elegias? Elas ultrapassam-me infinitamente. Considero-as um aperfeiçoamento na sequência daqueles pressupostos essenciais já presentes no Livro das Horas e que em ambas as partes dos Novos Poemas se servem experimentalmente de um imagem do mundo, vindo a concentrar-se de modo conflituoso nos Cadernos de Malte em que voltam a confrontar-se com a vida e aí quase demonstram que esta vida suspensa no abismo é impossível. Nas Elegias, e partindo dos mesmos dados, a vida volta a ser possível [...] A afirmação da vida e da morte constitui uma única e mesma coisa nas "Elegias" [...]

RMR