sexta-feira, maio 15, 2009

tentativa de tradução, indireta, do poema de adonis


a cor da água
adônis


tua cor é a cor da água,
ó corpo da linguagem
ali onde a água é
lêvedo, raio ou fogo.

a água se acende e se converte em raio, se converte
em lêvedo e em fogo,
em nenúfar,
chamando meu travesseiro
para dormir...
ó rio da linguagem,
viaja comigo dois dias, duas semanas pelo lêvedo dos segredos,
recorreremos mares, descobriremos madrepérolas,
choveremos rubis e ébano
aprenderemos que a magia
é uma fada negra
que não se enamora apenas do mar.
viaja comigo, surge aqui... desaparece ali...
e pergunta comigo, ó rio da linguagem,
pela concha que morre para converter-se
em nuvem rubra
de chuva,
em ilha
que caminha ou torna,
pergunta comigo, ó rio da linguagem,
por uma estrela cativa
nas redes da água
que carrega entre seus seios
meus últimos dias.
pergunta comigo, ó rio da linguagem,
por uma pedra da que brota a água,
por uma onda da que nasce rocha,
pelo animal almiscarado, por uma pomba de luz.
descende comigo pela clarabóia da trevas
ao lugar
onde habita o tempo roto
para que a linguagem seja
um poema que se veste com o rosto do mar.

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