neve, vendo, e ouvir –
à borda de rios, teus,
fremem de si, durando –
os passos já de pétalas,
sorriso por dizer, em eco;
assim, promessa de mais
dias duplicados, de peles,
de músculos, seus ossos –
a voz ressalta, remove-me
de cá, alhures, em calor
e calar tuas flores, todas –
sombras de nácar, nuvem
de mais olhos, teus,
que aguardo, na demora
habitado, de morada –
silêncio macerado, silvo,
em que me exilo, deixando –
retorno, em palavra,
aquém de pássaros, teus,
toda areia, tua, no começo,
prévia de ausências, branco,
de todo vento, sem-tempo,
na vida como resposta –
abandono de palmeira,
sulco que é nome, espanto,
inclino-te, corpo, aos restos
do dia, em que me habito –
tintas folhas na aurora.
sexta-feira, dezembro 11, 2009
véus e mélica
para fabricia nos 10 anos
sábado, novembro 14, 2009
νεκυομαντήιον
πέμψαντι γάρ οἱ ἐς θεσπρωτοὺς ἐπ᾽ Ἀχέροντα ποταμὸν ἀγγέλους ἐπὶ τὸ νεκυομαντήιον
[ele enviou mensageiros à terra dos tesprotos, no rio aqueronte ao oráculo dos mortos]
[ele enviou mensageiros à terra dos tesprotos, no rio aqueronte ao oráculo dos mortos]

ausência essa de ar,
figuras negras sob
o portão tricolunado,
imolando as faces
à cor gris rasurada,
azulejos de pedra.
o solstício pervaga,
câmara alva, rastro,
calando-se às escusas
de deméter a mãe
do som, pérfido, foz:
fuligens de corpos.
a donzela, deixada
à não-visiva visão
de Ἅδης, abandonados
os pés à fonte caiada;
torres de éfira, aliança
sub-limo, abaixo.
terça-feira, novembro 03, 2009
nênia para lévi-strauss

trópicos de ocas – o som oco do
negro, da sombra suspeita – riste
ethos de marcas – corpo de índio –
o andar de âmbares, nadar de
mitos: cosmografia de harmonia,
olhos de cru, de nódoas bororos –
corados sangradouros – o sonho
do sozinho, calar de expedição,
invento da carne, intento de tato.
incerto o pai, o filho decai em raça,
em flechas de pensar a selva oscura:
o tempo borraça, moçar de provença –
tristes moradas, borrados de signos
ágrafos, objetos de homem.
quarta-feira, outubro 21, 2009
esmirna/izmir
pérola de azul, a voz de heródoto
doa um canto fausto – cegas pernas
de homero – brilho leste, da mãe
de estreitos aos traços deixados
em relva, em runas os ramos do
pórfiro do talude – castelo veludo
do αιγαίο πέλαγος: pedra púrpura.
âmbar
voz de fruto, a luz converte
o rastro, calado, do tempo –
de toda fronte deflagra a
noite de arcos, deslizando-se –
de perfume, resta, silente
a morada: caminho, ainda.
quarta-feira, outubro 07, 2009
i(n)con(nue)
i(n)con(nue)
segunda-feira, outubro 05, 2009
homeros diversos, do braço à letra

Ὅμηρος:
οἵη περ φύλλων γενεὴ τοίη δὲ καὶ ἀνδρῶν.
φύλλα τὰ μέν τ᾽ ἄνεμος χαμάδις χέει, ἄλλα δέ θ᾽ ὕλη
τηλεθόωσα φύει, ἔαρος δ᾽ ἐπιγίγνεται ὥρη:
ὣς ἀνδρῶν γενεὴ ἣ μὲν φύει ἣ δ᾽ ἀπολήγει.
οἵη περ φύλλων γενεὴ τοίη δὲ καὶ ἀνδρῶν.
φύλλα τὰ μέν τ᾽ ἄνεμος χαμάδις χέει, ἄλλα δέ θ᾽ ὕλη
τηλεθόωσα φύει, ἔαρος δ᾽ ἐπιγίγνεται ὥρη:
ὣς ἀνδρῶν γενεὴ ἣ μὲν φύει ἣ δ᾽ ἀπολήγει.
Odorico Mendes:
Como as folhas somos;
Que umas o vento as leva emurchecidas,
Outras brotam vernais e as cria a selva:
Tal nasce e tal acaba a gente humana.
Haroldo de Campos:
Símile à das folhas,
a geração dos homens: o vento faz cair
as folhas sobre a terra. Verdecendo, a selva
enfolha outras mais, vinda a primavera. Assim,
a linhagem dos homens: nascem e perecem.
Frederico Lourenço:
Assim como a linhagem das folhas, assim é a dos homens.
Às folhas, atira-as o vento ao chão; mas a floresta no seu viço
Faz nascer outras, quando sobrevem a estação da primavera:
Assim nasce uma geração de homens; e outra deixa de existir.
Carlos Alberto Nunes:
As gerações dos mortais assemelham-se às folhas das árvores,
que, umas, os ventos atiram no solo, sem vida; outras, brotam
na primavera, de novo, por toda a floresta viçosa.
Desaparecem ou nascem os homens da mesma maneira.
George Chapman:
When like the races of leaves
The race of man is, that deserves no question, nor receives
My being any other breath. The wind in autumn strows
The earth with old leaves, then the spring the woods with new endows,
And so death scatters men on earth, so life puts out again
Man’s heavy issue.
Samuel Butler:
Men come and go as leaves year by year upon the trees. Those of autumn the wind sheds upon the ground, but when spring returns the forest buds forth with fresh vines. Even so is it with the generations of mankind, the new spring up as the old are passing away.
Stanley Lombardo:
Human generations are like leaves in their seasons.
The wind blows them to the ground, but the tree
Sprouts new ones when spring comes again.
Men too. Their generations come and go.
Robert Fagles:
Like the generations of leaves, the lives of mortal men.
Now the wind scatters the old leaves across the earth,
now the living timber bursts with the new buds
and spring comes round again. And so with men:
as one generation comes to life, another dies away.
Hugues Salel:
Le Genre humain eſt fragile, & Muable
Comme la Fueille, & auſſi peu durable.
Car tout ainſi qu’on voit les Branches vertes,
Sur le Printemps, de fueilles bien couvertes,
Qui par les ventz d’Autumne & la Froidure,
Tumbent de l’Arbre, & perdent leur verdure,
Puis derechef, la Gelée paſſée,
Il en revient en la place laiſſée :
Ne plus ne moins eſt du lignaige humain :
Tel eſt huy vis, qui ſera mort demain.
S’il en meurt ung, ung aultre vient à naiſtre :
Voila comment ſe conſerve leur eſtre.
Leconte de Lisle:
La génération des hommes est semblable à celle des feuilles. Le vent répand les feuilles sur la terre, et la forêt germe et en produit de nouvelles, et le temps du printemps arrive. C'est ainsi que la génération des hommes naît et s'éteint.
Paul Mazon:
Comme naissent les feuilles, ainsi font les hommes. Les feuille, tour à tour, c’est le vent qui les épand sur le sol, et la forêt verdoyante qui les fait naître, quand se lèvent les jours du printemps. Ainsi les hommes: une generation naît à l’instant même où une autre s’efface.
Minhas tentativas:
como ao clã de folhas, assim é o de homens.
folhas que ao solo o vento entorna, outra árvore
novas as faz florir, irrompe a primavera, ateando ver:
clã de homens irrompe e desarvora, lado a lado.
ou
como à linha de folhas, assim é a de homens.
folhas que ao solo o vento entorna, outro caule
novas as faz florir, a primavera, visto tecido:
lado a lado, linhas de homens tecem-se e desfolham.
Homero em versão samba,
Nelson Cavaquinho:
Quando eu piso em folhas secas,
Caídas de uma mangueira
Penso na minha escola
E nos poetas da minha estação primeira
Não sei quantas vezes
Subi o morro cantando
A luz do sol me queimando
E assim vou me acabando.
Quando o tempo avisar
Que eu não posso mais cantar
Sei que vou sentir saudade
Ao lado do meu violão
E da minha mocidade.
Quando eu piso em folhas secas,
Caídas de uma mangueira
Penso na minha escola
E nos poetas da minha estação primeira
Não sei quantas vezes
Subi o morro cantando
A luz do sol me queimando
E assim vou me acabando.
Quando o tempo avisar
Que eu não posso mais cantar
Sei que vou sentir saudade
Ao lado do meu violão
E da minha mocidade.
domingo, outubro 04, 2009
nênia para mercedes sosa
todas las voces, todas
todas las manos, todas
toda la sangre puede
ser canción en el viento.

tâmara e cigarras, entre
pavilhões de terra e amar
de gente: mar deixado a
voz, cantante, repleta.
vento deixando-se, abre-se
mais uma das estações
de folhas, de homens:
rompendo o cais, o porto;
quando se tem solo às mãos,
deixando-se os olhos ao som,
soslaio de mercês de ouvir-te,
de todo canto. pele deixovoz.
pavilhões de terra e amar
de gente: mar deixado a
voz, cantante, repleta.
vento deixando-se, abre-se
mais uma das estações
de folhas, de homens:
rompendo o cais, o porto;
quando se tem solo às mãos,
deixando-se os olhos ao som,
soslaio de mercês de ouvir-te,
de todo canto. pele deixovoz.
segunda-feira, setembro 28, 2009
memorabilia
diz-se, canto de ave:
os rastros solevam
o alfabeto, nas malhas;
mastros içados e matilhas
de rios, coroando;
móveis deixados, à cerca
do passado, bolores;
um intervalo, lúdico,
à morada de aleto;
esquecendo-se, o grafite
é lançado, de dentro;
ainda o silente, murmúrio
de ave, de lento lépido.
para ian
sábado, setembro 26, 2009
maria flor, do padrinho.
(foto de kleber fernandes, o avô-fotógrafo)

livres de todo choro:
assim, a fronte, de
sua história, ainda.
ao que guardas, o
tecido de borboletas,
a cor de moradas
distantes e amoras.
esperas, esse olhar,
das respostas uma
flor de pérola e botões
de frutas: demora
e habita a torre de caval-
eiros, pórticos de primavera
e açus lumes, ainda que
percebe, sente o porvir.
segunda-feira, setembro 14, 2009
“hung ‘twixt her, and mee”
para fabrícia, para variar.

ostra o caminho, fixado,
de si: convertem as noites
diletas – olivais e rés –
formigando-se, despida
de zelo, pendida.
assim, o tempo, rastro
iniludível de estelas
e mais pedras – convertendo-se
diâmetro a diástole –
ainda o caule cala.
sustêm consigo silvos
de móveis e violetas,
arde a cama, contos
da morada – órganon –
o tempo escoa, pó-areia.
libertas as letras ez-
vaziando-se: irmãs
entre pedra e pedra-ferro
aos seios feros de
hálito, gosto e sal.
de si: convertem as noites
diletas – olivais e rés –
formigando-se, despida
de zelo, pendida.
assim, o tempo, rastro
iniludível de estelas
e mais pedras – convertendo-se
diâmetro a diástole –
ainda o caule cala.
sustêm consigo silvos
de móveis e violetas,
arde a cama, contos
da morada – órganon –
o tempo escoa, pó-areia.
libertas as letras ez-
vaziando-se: irmãs
entre pedra e pedra-ferro
aos seios feros de
hálito, gosto e sal.
sexta-feira, setembro 11, 2009
“a spear of summer grass”

fumo contra a janela
luz deixada e aparecida
formando essas árvores
e ares e fontes
saúdam o orgulho
o sentido saindo de sol
e sons assim os olhos
remanescentes
a língua muda furta-cor
fuligem e folia fragrante
apenas a graça da fuga
deixada à tecla
da haste suspensa
pelo calor e convulsão
ás protegido do verde
contorcem-se em zelo
foices e face
a figura escura deitada
sobre a lâmina
de hálito da partida
infante
corada
luz deixada e aparecida
formando essas árvores
e ares e fontes
saúdam o orgulho
o sentido saindo de sol
e sons assim os olhos
remanescentes
a língua muda furta-cor
fuligem e folia fragrante
apenas a graça da fuga
deixada à tecla
da haste suspensa
pelo calor e convulsão
ás protegido do verde
contorcem-se em zelo
foices e face
a figura escura deitada
sobre a lâmina
de hálito da partida
infante
corada
quinta-feira, setembro 10, 2009
φανερός
estaca assim teus olhos
sob o mar de areia –
colunas de madeixa:
teus olhos defronte, ao
longo do fantasma,
parecem conluios
de lontras e seixos
repartidos e molduras,
de ossos, rastros e envios.
neste carvalho, a noite
brinda, vítrea, e correndo
nos sonhos, da espera,
os sorrisos submergem
ainda como espantos
na curva do tempo:
outonos. o presente
e os tons outorgados
sugerem a visão de ti.
sob o mar de areia –
colunas de madeixa:
teus olhos defronte, ao
longo do fantasma,
parecem conluios
de lontras e seixos
repartidos e molduras,
de ossos, rastros e envios.
neste carvalho, a noite
brinda, vítrea, e correndo
nos sonhos, da espera,
os sorrisos submergem
ainda como espantos
na curva do tempo:
outonos. o presente
e os tons outorgados
sugerem a visão de ti.
quarta-feira, setembro 09, 2009
leviatã (a partir de olímpia)
"assinalo como tendência geral de todos os homens um perpétuo e irrequieto desejo de poder e mais poder, que cessa apenas com a vida"
(thomas hobbes)
(thomas hobbes)

longe, longo, tomam-se
formas do mar e leve
monturos e movências
na camada cáustica do
fundo: jó sustém o diálogo,
e suas cinzas, sinais, soam
desditos, perpetuando.
entre o bronze e o macerado,
a tez se consome em pó
de nuvem e nucas, nuas
viragens e vultos silentes
em podar bestas, poder
errático. irreais os mantos,
areais de censura, cada
espelho, consola-se à
volta consigo, de ossos:
ainda desejo,
abismo.
formas do mar e leve
monturos e movências
na camada cáustica do
fundo: jó sustém o diálogo,
e suas cinzas, sinais, soam
desditos, perpetuando.
entre o bronze e o macerado,
a tez se consome em pó
de nuvem e nucas, nuas
viragens e vultos silentes
em podar bestas, poder
errático. irreais os mantos,
areais de censura, cada
espelho, consola-se à
volta consigo, de ossos:
ainda desejo,
abismo.
quarta-feira, setembro 02, 2009
ossos do sudão



vela o susto, ossos
e caça, à matéria
calada de tez e
tintura: solfejam,
ainda, grito e alarde,
ao que dá fuga,
de sul a sul, viragem.
morrem também, crispados
de silêncio, vozes de
crias, como que deixados,
ao abutre, aos vestígios
apenas do sol – dobras
reboam e há o som;
de pena de pássaro.
um sorriso ósseo
espira a carne, líquido
breu, peplos celestes,
e ainda tombam
vestes e damas,
sorrindo, maceradas,
de dentes.
e caça, à matéria
calada de tez e
tintura: solfejam,
ainda, grito e alarde,
ao que dá fuga,
de sul a sul, viragem.
morrem também, crispados
de silêncio, vozes de
crias, como que deixados,
ao abutre, aos vestígios
apenas do sol – dobras
reboam e há o som;
de pena de pássaro.
um sorriso ósseo
espira a carne, líquido
breu, peplos celestes,
e ainda tombam
vestes e damas,
sorrindo, maceradas,
de dentes.
sexta-feira, agosto 28, 2009
quarta-feira, agosto 26, 2009
notre amour, récemment et après
à fabricia, ma p'tite

bras et yeux, souriants
des fleurs: danseuse
de la lune, des rêves.
un caillou sur l’herbe,
habillé de tempête:
ton sourire au chemin –
près du vent, folle et
trop aimée, blanche,
vibre, ta voix, ton goût –
un gris ne serait point
dans notre ombre, dans
les étoiles aussi brunes
de tes miroirs et visage.
j’attends, un tour du dire,
un mot de chanson
tourne rond: depuis mon
jour à toi, j’espère et vois
ta mer dernière – un
langage – on reste,
presque.
le tien
domingo, agosto 23, 2009
leveza 3

às costas, deixam-se
os metais e matéria:
asa e linhas, aquém
do leito, os braços
moldados.
suspensos, suspiro,
pássaros de ocre
e cinza e pastel:
manto recoberto,
o oposto.
entr’acte – clair –
presença de lázaro,
o assombro de
sono e treva: tempo
e tempestade ainda,
ária de gorjeios.
o homem, quase asas,
noturna o silêncio,
torna a ver à volta
um sorriso de penas:
conluio livre.
os metais e matéria:
asa e linhas, aquém
do leito, os braços
moldados.
suspensos, suspiro,
pássaros de ocre
e cinza e pastel:
manto recoberto,
o oposto.
entr’acte – clair –
presença de lázaro,
o assombro de
sono e treva: tempo
e tempestade ainda,
ária de gorjeios.
o homem, quase asas,
noturna o silêncio,
torna a ver à volta
um sorriso de penas:
conluio livre.
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