sexta-feira, julho 17, 2009

três pares de sapatos (evgen bavcar, rené de magritte, vincent van gogh)

(não consegui escanear a fabulosa foto re-leitura de evgen bavcar sobre os sapatos de van gogh; quem tiver interesse em vê-la, está na revista Humanidades, n. 49, janeiro de 2003)


escondem-se de coisa a coisa
escondida em terra e areia mareada
perscruto à lápis e cera o canto
sereno desses ventos, o mundo,
à margem do medo, vocifero,
os pés ausentes, mas os dedos
já lá, imperando: foice partida
da história, deixa o arado
e aguarda a obra da lavoura.

espera, essa língua mortualha,
freme a baforada, enquanto chove,
os telhados recém-molhados,
a memória de um ódio antigo –
aguardando sempre a circuncisão
dos dias, das horas na tábua –
enquanto não vejo, a coisa ser-
penteia os oráculos – uma píton
sorri, gracejo – e nisso sobre-
impõe-se o suspiro do doce,
manjericão e pimenta, noturnos
de outro sonho: lume lucífero,
espero, desvelando, esse rio
mais antigo que o fogo, mais
além dos orifícios.

Um comentário:

olimpia disse...

Fiquei de cara com esse fotógrafo cego que você me apresentou. Parece que vocês dois têm algo em comum: gostam de construir imagens interiores.
Bom final de semana!